
STF e Bolsonaro: o julgamento que expõe as fraturas da democracia brasileira
Redação São Paulo TV – Análise Política
No dia 2 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) dará início ao julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de articular um plano para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O caso vai muito além da responsabilidade penal de um ex-presidente: ele se tornou símbolo da batalha institucional e cultural que divide o Brasil desde a última década.
De um lado, juristas afirmam que há provas consistentes de uma tentativa de golpe, incluindo delações, movimentações da Polícia Rodoviária Federal durante as eleições e articulações no entorno militar. Do outro, críticos apontam que a condução do processo por Alexandre de Moraes concentrou poderes excessivos, misturando papéis de investigador, vítima e julgador — um modelo que, para alguns, ameaça princípios fundamentais do direito de defesa.
O fio tênue entre Justiça e política
A discussão sobre foro privilegiado, a escolha da Primeira Turma para julgar um ex-presidente e a forma como foram conduzidas delações e provas levantam dúvidas sobre o equilíbrio entre a necessidade de punir crimes contra a democracia e a preservação das garantias constitucionais.
Especialistas como Maíra Beauchamp Salomi e Welington Arruda lembram que o Supremo reinterpretou sua própria competência apenas meses após a denúncia ser aceita, atraindo o caso para si de maneira questionável. Já outros, como Renato Vieira, sustentam que os crimes em análise — golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito — exigem julgamento no mais alto patamar da Corte, dado o risco institucional que representam.
No centro da controvérsia está Alexandre de Moraes: para uns, o ministro se transformou em “juiz de exceção”; para outros, em “baluarte da resistência democrática”.
A polarização como pano de fundo
O julgamento de Bolsonaro ocorre em um país esgarçado pela polarização. Para a extrema-direita, trata-se de um processo político travestido de jurídico, um esforço para neutralizar seu maior líder e criminalizar um movimento que conquistou milhões de brasileiros. Bolsonaro, para seus seguidores, não é réu: é mártir.
Já para a outra parte da sociedade, que acompanha com apreensão a escalada de ataques às instituições desde 2018, este julgamento é um divisor de águas. Representa a chance de reafirmar que a democracia não pode ser atacada sem consequências. Para esses brasileiros, a leniência diante de um ex-presidente que conspirou contra o Estado Democrático de Direito abriria um precedente devastador.
O preço da divisão
No fundo, o que se revela é que o Brasil paga caro por sua polarização desmedida. Enquanto a extrema-direita vê no STF um “tribunal político” que ameaça a liberdade de expressão, boa parte da sociedade sente o peso da violência retórica, da disseminação de fake news e da corrosão da confiança em instituições.
Esse abismo de percepções não é apenas ideológico: é existencial. Cada decisão, cada sentença, cada palavra transforma-se em combustível para a fogueira da divisão nacional. A democracia sobrevive, mas respira sob tensão.
O julgamento de Bolsonaro, portanto, é mais que um capítulo jurídico: é o retrato de um país em que a luta pelo poder se tornou maior que a convivência democrática.
Entre o discurso da extrema-direita que clama por perseguição e o restante da sociedade que busca preservar a normalidade institucional, o que se perde é o espaço de consenso — e, com ele, a capacidade de o Brasil se reconciliar consigo mesmo.
Fonte: Redação São Paulo TV – Análise Crítica