
Hugo Motta retoma presidência da Câmara sob tensão e põe polícia de prontidão contra protesto bolsonarista
SÃO PAULO TV | REDAÇÃO EM BRASÍLIA Edição: Diretoria de Jornalismo e Jornalista Bene Correa
Imagens: Wilton Junior / Estadão
BRASÍLIA, 7 de agosto de 2025 — Em mais um capítulo da crise institucional que sacode o Congresso Nacional desde a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), reassumiu nesta quarta-feira (6) a cadeira principal da Mesa Diretora, após dois dias de ocupação do plenário por parlamentares da oposição.
Em uma sessão marcada por tensão e discursos firmes, Motta classificou os atos recentes como uma afronta ao Parlamento e acionou a Polícia Legislativa para garantir o início dos trabalhos. A medida ocorreu diante da resistência de deputados bolsonaristas, que exigem anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
“O País deve estar em primeiro lugar, e não projetos pessoais”, declarou Motta em um recado direto aos manifestantes, ao abrir a sessão com 298 deputados presentes.
🔒 Ocupação, esparadrapo e bebê no plenário: protesto vira teatro político
Durante os dois dias de obstrução, cenas incomuns marcaram o Congresso. Deputados usaram esparadrapo na boca e nos olhos, em alusão ao que chamam de censura do Judiciário. A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) chegou a levar sua filha de quatro meses ao plenário e se sentou com a criança na cadeira da presidência da Câmara. No Senado, aliados de Bolsonaro chegaram a se acorrentar à Mesa Diretora, numa tentativa de impedir a tramitação de pautas.
A invasão simbólica visava impedir o funcionamento do Congresso até que suas demandas fossem atendidas.
🗣️ “A respeitabilidade da Mesa é inegociável”, afirma Motta
Ao reassumir o comando da Casa, Hugo Motta demonstrou firmeza:
“Estou aqui para garantir duas coisas: a respeitabilidade desta Mesa, que é inegociável, com quem quer que seja; e para que esta Casa possa se fortalecer. Temos um compromisso muito firme com o fortalecimento do Parlamento.”
Aos gritos e tumultos no plenário, Motta respondeu com apelos por ordem:
“Quero solicitar aos deputados que tomem seus assentos pela gravidade do momento. Não vai ser na agressão que vamos resolver esse problema.”
👮♂️ Polícia Legislativa mobilizada e articulação com o Senado
Diante da ameaça de nova obstrução, o presidente da Câmara chegou a dizer a aliados que acionaria a Polícia Legislativa para desbloquear o acesso à Mesa. Agentes foram posicionados na entrada do plenário para evitar novas ocupações. Do outro lado da Esplanada, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), reagiu com firmeza e determinou a realização de uma sessão remota para garantir o andamento dos trabalhos legislativos.
“O Parlamento não será refém de ações que visem a desestabilizar seu funcionamento”, afirmou Alcolumbre. “A democracia se faz com diálogo, mas também com responsabilidade e firmeza.”
⚖️ Pressão por anistia e impeachment é rejeitada por lideranças
A oposição condiciona o fim dos protestos à aprovação de uma anistia para os envolvidos no 8 de Janeiro e ao andamento de pedidos de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. Ambas as pautas, porém, foram rejeitadas pelas principais lideranças do Congresso.
Segundo o senador Cid Gomes (PSB-CE), Alcolumbre afirmou que não cogita aceitar os pedidos de impeachment neste momento. “O presidente disse que essa é uma prerrogativa dele e que não haverá avanço nessa direção”, declarou.
Já o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), revelou que Hugo Motta ameaçou suspender os parlamentares que voltassem a impedir fisicamente o funcionamento da Mesa Diretora.
🧭 Crise institucional se agrava no pós-Bolsonaro
A mobilização da oposição após a prisão de Jair Bolsonaro amplia a tensão entre os Poderes. O episódio evidencia a dificuldade do Legislativo em manter a normalidade diante da polarização política e das pressões vindas da ala mais radical do bolsonarismo.
Enquanto isso, a base do governo e os presidentes das Casas tentam reconstruir a agenda legislativa, com foco em medidas econômicas urgentes — como o plano de resposta ao tarifaço imposto por Donald Trump e os projetos de regulação tributária e ambiental.
📡 Redação São Paulo TV — Brasília
Edição: Diretoria de Jornalismo e Jornalista Bene Correa
Imagens: Wilton Junior / Estadão