
Governo mantém disposição de negociar, mas não descarta retaliação à taxa imposta por Trump
Da redação da São Paulo Tv jornalista Bene Correa com informações de O Globo
O governo brasileiro quer insistir nas negociações com os Estados Unidos, apesar do recuo parcial do presidente Donald Trump no tarifaço imposto ao Brasil.
Medidas de retaliação ainda não estão totalmente descartadas, mas são tratadas em segundo plano, já que a prioridade agora é negociar melhores condições para os setores afetados pela sobretaxa americana.
Na quarta-feira (30), Donald Trump assinou uma ordem executiva determinando a aplicação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, mas com centenas de exceções, como suco de laranja e aviões. Cerca de 45% dos produtos vendidos ao mercado americano não serão taxados.
Se desconsideradas as tarifas específicas, 35,9% das exportações foram diretamente afetadas pela medida. Trump determinou que a medida entre em vigor em sete dias, e não nesta sexta-feira (1). Assim, os negociadores ganharam mais tempo para negociar termos mais favoráveis aos produtos que não escaparam do tarifaço, como café, carnes e pescados.
Retaliação no radar
O Brasil tem direito de aplicar medidas de retaliação à taxa de Trump, por meio da Lei de Reciprocidade, mas a ordem no Palácio do Planalto, por enquanto, é reforçar o diálogo em todos os níveis.
Os emissários de Lula estão mapeando a disponibilidade das autoridades americanas para uma nova rodada de conversas. A experiência da negociação com outros países mostra que os Estados Unidos costumam ceder aos poucos.
No Ministério da Fazenda, o plano é abrir um novo canal de diálogo com o governo dos EUA por meio do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já esteve pessoalmente com Bessent em maio e sua equipe vinha fazendo contatos para tentar marcar uma nova conversa, mas o secretário americano estava na Europa.
Porém, Haddad disse nesta quinta (31) que a equipe de Bessent fez contato e deve marcar uma nova conversa entre os dois.
“A assessoria do secretário Bessent fez contato conosco ontem e que finalmente vai marcar a segunda conversa. Haverá agora uma rodada de negociações, e vamos levar às autoridades americanas o nosso ponto de vista.”, disse Haddad.
A intenção da Fazenda é de que o canal entre Haddad e Bessent funcione como um complemento ao contato entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de comércio de Trump, Howard Lutnick.
Enquanto Alckmin está mais focado nas tarifas e no efeito sobre os diferentes setores econômicos, o ministro da Fazenda conversaria sobre iniciativas que poderiam facilitar a relação bilateral. Aliados de Haddad garantem que o Brasil tem “cartas na manga”.
Ajuda aos setores afetados
A equipe econômica ainda avalia que o Brasil já se preparou para o “primeiro round” do tarifaço, por meio do plano de contingência com medidas para os setores afetados.
A expectativa é de que o plano inclua algum subsídio ao crédito para os setores afetados, além de medidas para proteção de empregos.
Em participação nesta quinta-feira no Programa Mais Você, na TV Globo, Alckmin disse que o objetivo é de que as medidas tenham o menor impacto fiscal possível, mas indicou que há possibilidade de o socorro aos setores afetados fique fora da meta, assim como aconteceu no plano de auxílio ao Rio Grande do Sul.
“Não queremos déficit nenhum. Queremos o menor impacto possível. Segundo, pode excluir do resultado primário das contas públicas. Como foi no Rio Grande do Sul, que teve um fato superveniente”, explicou Alckmin.