
Documento que originou pedido de afastamento de Ednaldo valida eleição de 2022 na CBF
Da redação da São Paulo TV Com informações do UOL Foto: Rafael Ribeiro
Recentemente, Ednaldo Rodrigues foi reeleito por unanimidade para mais quatro anos de mandato, com início em 2026 e término em 2030. Apesar da demonstração de força política, o presidente recém-eleito viu o apoio diminuir nos bastidores da Confederação.
O documento questionado, e que é a base do pedido de afastamento de Ednaldo Rodrigues, tem a data de 24 de janeiro de 2025. Por ordem alfabética, a primeira assinatura é a que rendeu polêmica: Antônio Carlos Nunes de Lima.
Além dele, o documento tem a assinatura de Castellar Neto, Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Adriano Aro, presidente da Federação Mineira, e o próprio Ednaldo Rodrigues, em nome da CBF.
A importância do documento
O documento é importante porque as partes reconheciam a validade da eleição de 2022, no processo que gerou o afastamento de Ednaldo em dezembro de 2023.
O acordo, então, traria uma suposta calmaria ao ambiente político da CBF. Só que isso não durou cinco meses.
Quais os elementos trazidos para gerar dúvida de que Nunes, um homem de mais de 80 anos, ex-presidente da CBF, foi mesmo um dos signatários?
Para começar, o estado de saúde dele.
O Coronel passou por uma cirurgia séria durante tratamento de câncer no cérebro.
Em 19 de junho de 2023, Jorge Pagura, médico que fez o procedimento e cuida do Coronel, fez um relatório no qual reportou “déficit cognitivo” no dirigente. Pagura trabalha na CBF como presidente da comissão médica da seleção brasileira.
O laudo passou a circular porque foi inserido em um processo na Justiça do Pará, no qual Nunes tentava interromper descontos de pensão da aposentadoria que recebe.
Controvérsia sobre a autenticidade da assinatura
O relatório foi o primeiro elemento trazido na discussão atual sobre a assinatura do Coronel.
Na petição de Fernando Sarney, um dos vices da CBF que pediu afastamento de Ednaldo da CBF, foi anexado mais um documento da mesma época: uma procuração assinada pelo Coronel dando poderes a outra pessoa para gerir sua conta bancária.
A escrevente teve que ir até o Coronel porque ele estava “impossibilitado de comparecer” ao órgão. A procuração tem tanto a assinatura por extenso quanto a rubrica do Coronel.
Depois disso, veio um elemento controverso. Um parecer técnico de uma perita contratada pelo vereador carioca Marcos Dias (Podemos).
A empresa é de Jacqueline Tirotti. A conclusão dela é “impossibilidade de vinculação do punho” ao Coronel Nunes.
A perita citou “divergências em relação aos padrões apresentados, conforme demonstrado no exame, bem como, ressaltando a fragilidade do documento questionado, em razão da ausência de grampeamento/fixação de folhas e ausência de rubricas”.
Empresa de perícia contestada em outros casos
A empresa que fez o laudo já teve trabalhos contestados, como no uso de um vídeo para acusar o padre Julio Lancelotti de pedofilia e na discussão se a apresentadora Ana Hickmann assinou documentos que geraram uma dívida na casa de R$ 1 milhão.
Em defesa de Ednaldo Rodrigues, a CBF disse que o laudo “está sendo utilizado de forma midiática e precipitada, numa verdadeira espetacularização, que atende a interesses nada republicanos e aparentemente questionado por terceiros absolutamente estranhos ao processo.”
Só que quando o assunto retornou à Justiça do Rio, por ordem do Supremo Tribunal Federal, o Coronel Nunes não compareceu à audiência na qual poderia esclarecer a história toda. Diante disso, o desembargador decidiu afastar toda a diretoria da CBF.
O primeiro afastamento de Ednaldo aconteceu em dezembro de 2023, quando a Justiça do Rio entendeu que o Ministério Público do Rio não tinha poder de propor o termo de ajustamento de conduta (TAC) que serviu como alicerce para a eleição de Ednaldo Rodrigues, em 2022.
Na ocasião, o TJ definiu o então presidente do STJD, José Perdiz, como interventor para realizar a eleição. Mas isso nem chegou a se concretizar, porque uma liminar no STF dada pelo ministro Gilmar Mendes reconduziu Ednaldo ao poder no mês seguinte.