
Trump proíbe Harvard de matricular estrangeiros: impactos econômicos e sociais atingem milhões nos EUA e no mundo
Reportagem Especial — Editoria Internacional | São Paulo TV Broadcasting Imagem Tema Trix Ciglioni e interna da National File
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (22) a revogação da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio (SEVP) da Universidade de Harvard, impedindo que a instituição — uma das mais prestigiadas do mundo — matricule estudantes estrangeiros. A medida, formalizada em carta assinada por Kristi Noem, secretária de Segurança Interna, representa um dos mais drásticos episódios da escalada de tensões entre a administração Trump e as universidades americanas.
A decisão, oficialmente justificada como parte de um esforço para combater o antissemitismo no campus, é amplamente vista como um movimento político para exercer controle sobre a universidade, conhecida historicamente por sua autonomia intelectual e posicionamentos progressistas em temas sociais.
O impacto direto: Harvard perde mais de US$ 500 milhões anuais
Atualmente, cerca de 6.800 estudantes estrangeiros estão matriculados em Harvard, o que representa 27% do total de alunos da instituição. Cada um paga, em média, US$ 59 mil anuais em mensalidades, valor que pode ultrapassar os US$ 87 mil, quando incluídos custos de moradia, alimentação e seguros.
Estima-se que a proibição da matrícula de novos estrangeiros poderá representar uma perda imediata de mais de US$ 500 milhões anuais em receitas diretas, sem contar a queda subsequente em investimentos, doações e parcerias internacionais que dependem do caráter global da instituição.
Além disso, milhares de estudantes internacionais que já estão em curso vivem agora sob a incerteza de seu status migratório e acadêmico. O Departamento de Estado sinalizou que poderá revogar vistos F-1 e J-1 emitidos para Harvard, aumentando a pressão sobre quem já reside legalmente no país.

Reflexos no sistema de ensino americano: um golpe na economia de US$ 40 bilhões
A medida não afeta apenas Harvard: ela sinaliza uma diretriz agressiva da Casa Branca contra universidades que recebem grandes contingentes de estudantes internacionais. De acordo com dados do Institute of International Education (IIE), os EUA acolhem atualmente mais de 1 milhão de estudantes estrangeiros, que movimentam cerca de US$ 40 bilhões por ano na economia americana, sobretudo em áreas como moradia, alimentação, transporte e entretenimento.
O estado de Massachusetts, onde Harvard está localizada, é o quarto maior destino de estudantes internacionais, com aproximadamente 60 mil alunos estrangeiros, gerando mais de US$ 2,5 bilhões anuais para a economia local.
Analistas apontam que o bloqueio a Harvard poderá criar um “efeito dominó”, desestimulando jovens do mundo todo a buscar formação nos Estados Unidos, redirecionando fluxos migratórios e financeiros para países concorrentes, como Canadá, Reino Unido, Austrália e Alemanha, que já possuem políticas públicas de acolhimento acadêmico mais abertas.
Prejuízo para a ciência e a inovação
Harvard lidera inúmeros projetos de pesquisa científica, tecnológica e médica em parceria com instituições e governos de diversos países. Grande parte dessa produção depende de talentos estrangeiros, que integram equipes de pesquisa em áreas estratégicas como inteligência artificial, biotecnologia e saúde pública.
A limitação ao ingresso desses profissionais poderá frear inovações e impactar negativamente a liderança científica dos EUA. Apenas em 2024, Harvard registrou mais de 1.200 patentes em colaboração com pesquisadores estrangeiros.
A questão política: ataque à autonomia universitária
Para críticos da decisão, a medida é uma represália direta à resistência de Harvard frente às pressões do governo para adotar políticas de repressão a manifestações ligadas à causa palestina e críticas à política externa americana.
Em novembro passado, Trump classificou Harvard como “epicentro do antissemitismo acadêmico”, após protestos estudantis contra a guerra em Gaza. Organizações de direitos civis denunciaram a ação do governo como uma tentativa de censurar e politizar a vida universitária.
“Estamos diante de uma clara violação à liberdade acadêmica e ao princípio da autonomia universitária consagrado na tradição americana”, declarou à São Paulo TV o professor Mark Feldman, especialista em políticas públicas da Universidade de Chicago.
O drama humano: o destino de milhões
A medida atinge diretamente não apenas os 6.800 estudantes estrangeiros de Harvard, mas reverbera sobre milhões de jovens que atualmente planejam ou já iniciaram processos de estudo nos Estados Unidos.
Organizações como a NAFSA (Association of International Educators) alertam que mais de 350 mil processos de admissão de estrangeiros para o ciclo 2026 estão em andamento, agora sob risco de cancelamento ou atraso.
Estudantes brasileiros, que representam atualmente mais de 20 mil matriculados em instituições americanas, manifestaram preocupação. “É um cenário de incerteza. Muitos planejaram anos para estudar nos EUA, e agora tudo está suspenso”, declarou Mariana Ferreira, candidata ao doutorado em Harvard e atualmente residente em São Paulo.
Impactos na economia global e no Brasil
O Brasil, historicamente entre os top 10 países que mais enviam estudantes para os EUA, também será afetado. Além da interrupção de trajetórias acadêmicas, haverá efeitos sobre as redes de intercâmbio cultural e científico que sustentam parcerias bilaterais.
Empresas brasileiras que investem em programas de capacitação no exterior poderão redirecionar recursos para universidades canadenses, europeias ou australianas, que já registram aumento na procura de brasileiros.
Do ponto de vista econômico global, o bloqueio compromete a fluidez de uma indústria educacional altamente internacionalizada, que representa um dos pilares da soft power dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial.
Reação internacional: pressão sobre Washington
A medida provocou críticas de governos e organizações internacionais. O chanceler alemão, Olaf Scholz, considerou a decisão “retrógrada e prejudicial à cooperação científica global”. A Unesco, em comunicado, afirmou que a iniciativa “atenta contra a liberdade acadêmica e enfraquece a educação como motor de desenvolvimento”.
No Congresso americano, senadores democratas anunciaram que pretendem abrir uma investigação sobre a legalidade da suspensão, especialmente diante do caráter discricionário da revogação do SEVP.
O que pode acontecer agora?
Especialistas indicam três cenários possíveis:
- Judicialização: Harvard poderá recorrer aos tribunais, alegando violação de direitos constitucionais, especialmente quanto à liberdade acadêmica e à autonomia administrativa.
- Negociação política: Pressão de congressistas e da sociedade civil pode levar a uma revisão da medida.
- Adoção de novos destinos: Estudantes e pesquisadores poderão migrar em massa para outros países, realinhando o fluxo global de talentos.
Conclusão: uma medida com efeitos profundos e duradouros
A suspensão da certificação da Universidade de Harvard representa muito mais do que uma questão administrativa: trata-se de uma ação com potencial para reconfigurar o papel dos Estados Unidos como destino educacional global, impactando milhões de estudantes, a economia americana e as redes de inovação científica internacional.
O gesto político de Trump, parte de sua retórica nacionalista e de confrontação com setores progressistas, poderá deixar uma marca permanente na política educacional e migratória dos Estados Unidos, reposicionando a liderança do país no cenário acadêmico global.
Edição: Jornalismo da São Paulo TV B Ciglioni e Bene Correa
São Paulo TV Broadcasting — Editoria Internacional