
Trump muda de tom e aposta em boa relação com Lula: “Brasil e EUA vão se dar muito bem”
Da redação da São Paulo Foto: Evaristo Sa and Ludovic MARIN / AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu nesta segunda-feira (6) ao adotar um tom de aproximação com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Após meses de tensão e discursos duros contra o Brasil, Trump afirmou em rede social, depois de uma ligação de 30 minutos com Lula, que “Brasil e Estados Unidos vão se dar muito bem juntos”. O gesto consolida a reaproximação que já havia começado no encontro entre os dois líderes durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Na conversa, Lula e Trump trocaram contatos pessoais, brincaram sobre a idade de ambos e abriram caminho para um encontro presencial ainda neste mês. A possibilidade mais imediata é que a reunião aconteça à margem da cúpula da Asean, na Malásia, mas não está descartada uma visita aos EUA ou ao Brasil.
O centro da ligação foi o comércio bilateral. Hoje, produtos brasileiros enfrentam tarifas de até 50% no mercado americano, e Lula pediu que esse peso seja reduzido para facilitar a entrada de exportações nacionais. O presidente brasileiro também defendeu o fim das restrições de vistos americanos para autoridades brasileiras do Executivo e do Judiciário. Embora não tenha havido decisões objetivas, o clima foi descrito por diplomatas como “extremamente positivo”, abrindo uma avenida para negociações bilaterais.
Do lado americano, quem assumirá a linha de frente das tratativas será o secretário de Estado, Marco Rubio, conhecido por posições duras, mas com acesso direto a Trump. No Brasil, o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, devem liderar a interlocução. A avaliação no Itamaraty é que os três têm experiência e habilidade para negociar em tom pragmático, garantindo avanços concretos.
A guinada de Trump também tem forte impacto político. Até então, ele mantinha laços públicos com Jair Bolsonaro, mas agora sinaliza alinhamento com Lula e uma disposição de construir pontes. Esse movimento isola ainda mais o bolsonarismo, que já enfrenta esvaziamento nas ruas, perda de força no Congresso e críticas internacionais. Para analistas, o ex-presidente norte-americano “caiu na real”, deixando de lado a retórica belicosa e reconhecendo que a parceria com o Brasil é estratégica.
Lula considerou a conversa “excepcional” e reforçou que vê espaço para fortalecer laços econômicos, políticos e diplomáticos entre os dois países. Para o governo brasileiro, a sinalização de Trump pode representar a retomada de uma relação de cooperação em áreas estratégicas, com ganhos para a indústria e para a diplomacia nacional. Já para Bolsonaro e seus aliados, o novo cenário é um duro golpe: perdem sua principal referência internacional e veem o bolsonarismo ainda mais fragilizado no palco global.