
Trump diz que Brasil é um parceiro comercial ruim e volta a mencionar Bolsonaro
Da redação da São Paulo Tv jornalista Bene Correa Foto EVAN VUCCI/AP
O presidente dos Estados Unidos, Donald trump, voltou a criticar o Judiciário e o governo brasileiros .
Um encontro com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, Trump classificou o Brasil como um parceiro comercial ruim, que tem leis ruins e que promove uma execução política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
“O Brasil tem sido um parceiro comercial horrível em termos de tarifas. Como você sabe, eles nos cobram tarifas enormes, muito, muito maiores do que as que cobrávamos deles. Na verdade, praticamente não cobramos nada”, afirmou Trump.
“Mas eles também nos trataram muito mal como parceiros comerciais por muitos anos. Um dos piores. Um dos piores países do mundo nesse sentido. Eles cobravam tarifas enormes e tornavam tudo muito difícil. Então agora estão sendo cobrados com tarifas de 50%, e não estão felizes, mas é assim que as coisas são”, afirmou.
No entanto, os números oficiais mostram que o mandatário norte-americano está equivocado, já que o Brasil registra déficit comercial com os Estados Unidos há 17 anos, ou seja, os americanos vendem muito mais produtos para o mercado brasileiro do que o Brasil compra.
Trump também afirmou que não há preocupação sobre a aproximação comercial do Brasil e do México com a China.
Resposta de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava na cerimônia de entrega de 599 títulos de regularização fundiária aos moradores da comunidade de Brasília Teimosa, no Recife, quando resolveu responder à fala do colega norte-americano.
Na resposta, Lula afirmou que Trump mente ao afirmar que o Brasil é um mau parceiro comercial.
“O Brasil é bom, só não vai andar de joelhos para o governo americano”, disse Lula.
Superávit de US$ 1,6 bi só em 2025
Os dados parciais da balança comercial Brasil-EUA de 2025 mosatram uma vantagem de US$ 1,6 bilhão para o país de Trump.
O Brasil vende principalmente commodities e produtos primários, como petróleo bruto, café e bens de ferro e aço.
Já no topo da lista de produtos que o Brasil compra dos americanos estão os componentes de aeronaves.
Citação a Bolsonaro
Como tem feito ultimamente, o presidente dos Estados Unidos voltou a dizer que o ex-presidente Jair Bolsonaro é um injustiçado e um bom homem. Ele também criticou o Judiciário brasileiro
“E o Brasil tem algumas leis muito ruins acontecendo. Eles pegaram um presidente e o colocaram na prisão ou estão tentando prendê-lo. E eu conheço esse homem, e vou te dizer: eu sou bom em avaliar as pessoas. Acho que ele é um homem honesto, e acho que o que fizeram… Isso é uma… Isso é realmente uma execução política que estão tentando fazer com o Bolsonaro. Acho isso terrível.”, afirmou Trump.
Tarifaço em vigor
A taxa de 50% imposta por Trump às exportações brasileiras para o mercado americano entrou em vigor no dia 6 de agosto.
Segundo o governo brasileiro, a tarifa atinge 36% dos produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, incluindo itens importantes na relação comercial entre os dois países, como máquinas agrícolas, carnes e café.
Graças a cerca de 700 exceções previstas no decreto que oficializou a medida, 43% do valor de itens brasileiros exportados para o país escaparam das novas alíquotas.
Entre os produtos que escaparam do tarifaço estão derivados de petróleo, ferro-gusa, suco de laranja e produtos de aviação civil, que acabou livrando a Embraer da sanção imposta por Trump.
Além disso, cerca de 20% das exportações, como aço, alumínio e autopeças, estão sujeitas às tarifas setoriais específicas.
Sobretaxa desde abril
As sanções tarifárias contra o Brasil vêm sendo impostas desde abril, quando Trump anunciou uma sobretaxa de 10% a vários países.
No mês passado, Trump adicionou questões políticas e ideológicas nas relações comerciais e adicionou mais 40%.
Com isso, produtos brasileiros que estão fora da lista de exceções passaram a pagar sobretaxa de 50%, além das tarifas que já incidem normalmente.
O etanol, por exemplo, pagava tarifa de 2,5% antes de Trump voltar ao poder. Agora, a alíquota passará a 52,5%.
Foco no Judiciário brasileiro
O decreto assinado por Trump, embora trate de uma medida econômica, foca críticas ao governo brasileiro e a decisões do Judiciário e não menciona o comércio bilateral.
O decreto menciona diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no inquérito que apura a tentativa de golpe em 2022.
A Casa Branca afirma que a medida visa “lidar com ameaças incomuns e extraordinárias à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
O governo brasileiro afirma que não vai ceder nos pontos considerados políticos da medida e tenta levar as conversas para a seara comercial. Enquanto isso, as negociações com os Estados Unidos seguem travadas.
Uma conversa que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria com seu equivalente no governo norte-americano, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, acabou cancelada há duas semanas repentinamente.
Pessoas que acompanham as tratativas dizem que a conversa só vai avançar quando houver o aval de Trump, o que ainda não há, e que por ora o presidente americano só está disposto a ceder se houver algum gesto do Brasil relacionado a Bolsonaro.