
Skaf volta à Fiesp em momento decisivo da indústria: entre a revolução da IA e o novo tabuleiro geopolítico global
SÃO PAULO TV – ESPECIAL ECONOMIA & INDÚSTRIA
Pela Diretoria de Jornalismo
03 de agosto de 2025 | Atualizado às 19h40
Paulo Skaf está de volta. O ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) deve ser reconduzido nesta segunda-feira (4) à presidência da entidade que comanda o maior parque industrial do país. Será seu quinto mandato à frente da federação — agora, em um momento em que o Brasil enfrenta o maior ponto de inflexão da indústria nacional nas últimas décadas.
Diferente de suas gestões anteriores (2004 a 2021), marcadas por defesa enérgica da indústria tradicional e embates políticos, o novo ciclo — que se inicia oficialmente em janeiro de 2026 — será enfrentado com uma realidade alterada pela ascensão da inteligência artificial, por uma nova ordem comercial global e pela crescente pressão por sustentabilidade e inovação.
Eleição sem disputa, desafio com múltiplas frentes
Skaf encabeça chapa única e conta com o apoio maciço dos sindicatos filiados, que mantiveram diálogo estreito com ele mesmo durante a gestão do atual presidente, Josué Gomes da Silva. O retorno ao comando da entidade acontece em meio à maior crise de identidade da indústria nacional.
Se nos anos anteriores o setor já sofria com perda de relevância no PIB e esvaziamento da cadeia produtiva, hoje a situação é ainda mais crítica. A ofensiva tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump — que impôs tarifas de até 50% a produtos brasileiros — impacta duramente exportadores paulistas. Ao mesmo tempo, a transição tecnológica global coloca o Brasil sob risco de ficar à margem das cadeias produtivas que importam.
Especialistas alertam: não é mais possível jogar com o manual antigo
Para analistas como Marcos Lisboa, economista e ex-presidente do Insper, a própria indústria precisa assumir parte da responsabilidade pelo seu encolhimento.
“As lideranças industriais continuam apostando em subsídios, proteção estatal e lobbies defensivos. Mas o que se precisa agora é produtividade, disputa em alto nível e inovação radical”, afirma Lisboa.
Glauco Arbix, professor da USP e pesquisador do Centro de Inteligência Artificial (USP/Fapesp/IBM), é ainda mais direto:
“A indústria brasileira está presa à arapuca da média tecnologia. Perdeu o timing da janela de oportunidades em IA e biotecnologia. Agora, o mundo fecha as portas com políticas protecionistas. É a última chance de saltar.”
IA, computação quântica e biotecnologia: temas ausentes da agenda industrial
Segundo Arbix, o momento crítico da indústria exige que entidades como a Fiesp se transformem em verdadeiros “postos avançados de inovação”, abandonando a lógica do “bom e velho protecionismo”.
Para ele, o modelo atual da política industrial — como o Nova Indústria Brasil (NIB) — tenta preservar estruturas obsoletas, enquanto a revolução produtiva global exige respostas ousadas.
“O NIB ajuda a sobreviver, mas não a superar. Falta linha para IA, falta biotecnologia, falta ousadia.”
Sistema S e o velho dilema da transparência
A crítica à falta de renovação também recai sobre o Sistema S, rede de entidades como Senai e Sesi, financiadas com recursos bilionários da indústria. Marcos Lisboa aponta que o modelo — herança da era Vargas — funciona como um tributo involuntário que pouco estimula resultados concretos.
“Com verba garantida, sindicatos não precisam entregar inovação. E a indústria segue órfã de um projeto nacional de excelência.”
Dados da Receita Federal mostram que o Sistema S arrecadou R$ 29 bilhões em 2024. No entanto, faltam métricas claras de impacto.
A visão de futuro: será Skaf o líder dessa virada?
Mesmo evitando entrevistas por respeito ao processo eleitoral, a figura de Skaf divide opiniões. Para uns, representa estabilidade e articulação política em tempos conturbados. Para outros, simboliza o modelo de representação que precisa urgentemente se reinventar.
Horácio Lafer Piva, também ex-presidente da Fiesp, acredita que a indústria não voltará ao protagonismo de décadas passadas, mas pode se reinventar em novas cadeias produtivas e setores agregados como serviços, logística e tecnologia.
“A indústria precisa e pode continuar sendo relevante, desde que se reconecte com o presente.”
O que está em jogo na Fiesp de 2026 a 2029
Missões prioritárias para a nova gestão:
- Tornar a Fiesp um polo de inteligência e inovação;
- Atrair startups industriais e promover sinergia com universidades;
- Defender a indústria no cenário internacional com foco em competitividade;
- Reestruturar o papel do Sistema S com mais transparência e foco em resultados;
- Liderar o debate sobre IA, transformação digital e transição energética no setor produtivo.
Editorial São Paulo TV: A Fiesp que o Brasil precisa
O retorno de Skaf à Fiesp simboliza mais do que a reeleição de um dirigente influente: representa a encruzilhada de um setor que precisa decidir se continuará defendendo trincheiras antigas ou se será protagonista de um novo ciclo de reinvenção tecnológica, geopolítica e ambiental. O que está em jogo não é apenas a liderança da Fiesp, mas o futuro da indústria brasileira.
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Redação São Paulo TV
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