
O Luto Silencioso: A dor da perda de um de nossos filhos de quatro patas e o olhar da sociedade
São Paulo TV Especial PETs
Para quem vive com um animal de estimação, a palavra “pet” pode soar pequena diante da grandeza desse vínculo. São filhos de quatro patas, companheiros de jornada, presença diária em momentos de alegria e de dor. Eles acolhem sem julgamentos, oferecem amor sem condições e, muitas vezes, tornam-se a principal fonte de afeto em lares de todas as classes sociais. Por isso, quando partem, deixam não apenas um vazio, mas um silêncio difícil de ser compreendido por quem nunca viveu essa relação.
A morte de um pet abre um luto singular: íntimo, intenso e, muitas vezes, invisível aos olhos da sociedade. Para aprofundar essa reflexão, a São Paulo TV entrevistou Aline Teixeira, médica veterinária e estudante de psicologia, que tem se dedicado a analisar, com sensibilidade e rigor científico, a dimensão desse sofrimento.

“Perder um pet é como perder um pedaço de si”
“O tutor não perde apenas um animal, perde um pedaço da própria vida, da própria história”, explica Aline. “É a ausência do latido na porta, do ronronar na cama, do carinho ao fim do dia. É como se uma parte do cotidiano fosse arrancada. Muitos me dizem: ‘é como se eu tivesse perdido um filho’. E não há exagero nisso, há verdade emocional.”
Segundo ela, a medicina veterinária e a psicologia convergem nesse ponto: o vínculo humano-animal é autêntico, profundo e transformador. “A ciência já comprovou que pets reduzem a solidão, fortalecem a autoestima e até auxiliam em tratamentos de saúde mental. Quando morrem, esse vazio pode desencadear uma dor comparável ao luto familiar.”
A incompreensão da sociedade
O desafio, afirma Aline, está no olhar social. “A sociedade, em geral, ainda não legitima essa dor. O tutor em luto ouve frases como ‘era só um cachorro’ ou ‘adote outro’. Isso não conforta, isso machuca. É negar a importância daquele vínculo. É como se a dor não tivesse direito de existir.”
Esse preconceito, ela aponta, leva muitos a viverem o luto em silêncio. “Há pessoas que sofrem caladas porque têm medo de serem vistas como frágeis ou ridículas. Esse isolamento, muitas vezes, agrava o sofrimento e pode até levar a quadros depressivos.”
O papel do acolhimento humano
Para Aline, o caminho é a validação. “Precisamos acolher esse luto com humanidade. O veterinário deve oferecer uma despedida respeitosa, com clareza sobre o ciclo de vida do animal e empatia na hora final. Já o psicólogo ajuda o tutor a atravessar esse processo, reconhecendo que o amor que se foi é legítimo e merece ser elaborado.”
Ela ressalta também a força das redes de apoio. “Família, amigos e comunidades virtuais podem transformar a dor em partilha. Quando há escuta, o tutor deixa de se sentir sozinho e entende que seu sofrimento não é menor do que o de ninguém. É nesse ponto que o luto encontra espaço para ser vivido com dignidade.”
Do silêncio à transformação social
O olhar da sociedade precisa mudar, defende Aline. “Se reconhecemos a importância da saúde mental, também precisamos reconhecer o luto por um filho de quatro patas. Não se trata de exagero, mas de respeito. Empatia e acolhimento podem ser gestos simples, mas que fazem a diferença para que o tutor encontre força para seguir adiante.”
Para ela, o futuro está no diálogo: “A transformação começa quando paramos de julgar a dor do outro e aprendemos a olhar com compaixão. Cada perda é única, mas todo luto merece respeito.”
São Paulo TV Especial – Redação