
Haddad entrega a Lula plano emergencial contra tarifaço de Trump; governo estuda crédito, compras públicas e proteção ao emprego
Reportagem São Paulo TV | Redação fonte Estadão, Agência Brasil, São Paulo TV
BRASÍLIA, 7 de agosto de 2025 — O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou nesta quarta-feira (6) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o aguardado plano de contingência com medidas para atenuar os impactos do tarifaço de 50% imposto ao Brasil pelo presidente norte-americano Donald Trump. As ações visam proteger empresas brasileiras — especialmente as de pequeno porte — e garantir empregos, sem comprometer o equilíbrio fiscal. O anúncio oficial das medidas será feito pelo Palácio do Planalto nos próximos dias.
O plano, descrito como “amplo” pela equipe econômica, reúne alternativas de crédito emergencial, compras governamentais, devolução acelerada de créditos tributários, incentivo à abertura de novos mercados e flexibilizações trabalhistas. A intenção é responder com agilidade ao choque provocado pela medida norte-americana, que entrou em vigor justamente nesta quarta-feira.
Lula prega cautela e descarta retaliação
Em entrevista à Reuters, o presidente Lula afirmou que, apesar do impacto da medida, o Brasil não adotará retaliações automáticas contra os Estados Unidos, preferindo esgotar todas as vias diplomáticas antes de qualquer resposta comercial.
“Eu poderia taxar produtos americanos, mas não farei, porque não quero ter o mesmo comportamento [dos EUA]”, disse o presidente.
A Casa Branca já havia sinalizado que qualquer retaliação brasileira resultaria em contramedidas na mesma proporção, endurecendo ainda mais a relação bilateral.
Principais pontos do plano de contingência
1. Linhas de crédito emergencial
A Fazenda prevê a criação de linhas de financiamento com foco no capital de giro das empresas exportadoras, sobretudo aquelas com alta dependência do mercado americano. Também estão em estudo soluções para contratos de adiantamento de câmbio (ACC), que perderam garantias com o cancelamento de encomendas externas.
2. Compras públicas
Para o setor agropecuário, a proposta prevê a aquisição direta de produtos perecíveis pelo governo, como frutas, peixes, mel e açaí. A ideia é absorver parte da produção que não encontrará destino externo imediato.
3. Incentivos fiscais
Entre as medidas estudadas está a devolução acelerada de créditos tributários, direito adquirido por exportadores. Outra possibilidade é o congelamento temporário de tributos, com posterior parcelamento, para aliviar o fluxo de caixa das empresas.
4. Manutenção de empregos
Haddad também sugeriu a reativação do programa de redução de jornada com compensação salarial, semelhante ao adotado na pandemia. Férias coletivas e outras flexibilizações trabalhistas também estão sendo consideradas para evitar demissões em massa.
Indústria e agro pedem resposta rápida
Desde o anúncio do tarifaço, a pressão sobre o governo federal cresceu. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou uma lista com oito demandas prioritárias. O setor busca proteção ao emprego, financiamento, defesa comercial contra produtos importados (medidas antidumping) e apoio à diversificação de mercados.
“Não é para a indústria toda; é somente para as empresas muito afetadas”, afirmou Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da CNI. “Muita coisa não tem custo fiscal”, completou.
No agronegócio, os apelos incluem compras públicas, linhas de crédito e mudanças regulatórias para incentivar o uso de produtos in natura no mercado interno, como a inclusão obrigatória de frutas reais em sucos industrializados, o que pode ajudar a absorver excedentes de produção, como mangas e laranjas.
Cenário político conturbado
A tramitação das medidas no Congresso pode enfrentar entraves. Desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar, o ambiente legislativo tem sido de tensão. O governo avalia enviar parte das medidas por meio de Medida Provisória (MP), o que garante validade imediata sem necessidade de votação prévia.
Trump eleva tensão nas relações bilaterais
O novo tarifaço — chamado de “Liberation Day Tariff” — aumentou de 10% para 50% o imposto sobre produtos brasileiros nos EUA, atingindo setores como alimentos processados, frutas, carnes e insumos industriais. A medida tem impacto direto sobre centenas de municípios exportadores, especialmente nos estados do Paraná, São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Próximos passos
A expectativa é de que o presidente Lula anuncie oficialmente o pacote até o fim da semana, sinalizando que o Brasil não ficará inerte diante do que muitos consideram uma ação unilateral e protecionista da Casa Branca. A estratégia do governo, no entanto, busca manter a diplomacia como prioridade, tentando preservar o relacionamento econômico com os Estados Unidos e evitar uma escalada de retaliações.
Redação São Paulo TV
Edição: Diretoria de Jornalismo
Imagens: Estadão, Agência Brasil, São Paulo TV