
Empresários e governo buscam saídas e alternativas para o tarifaço de Donald Trump
Da redação da São Paulo Tv Bene Correa (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)
Empresários e representantes da indústria manifestaram o desejo de que o governo Lula (PT) foque na negociação com os Estados Unidos e reclamaram do prazo dos presidente dos Estados Unidos para aumento da taxação. Os pedidos foram feitos nesta quarta-feira (15) na reunião do comitê de emergência.
Em resposta, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse que pode “trabalhar neste sentido”.
“O que nós ouvimos é: negociação, empenho para rever os anúncios”, afirmou Alckmin, após a reunião nesta manhã.
Participaram da reunião, os representantes de entidades e empresas das áreas de aviação, aço, alumínio, celulose, maquinário, madeira, calçados, móveis e autopeças.
Os empresários também reclamaram do prazo de início da taxação, estabelecido por Donald Trump para 1º de agosto.
“O prazo é exíguo, é curto. Nós poderíamos, de repente, trabalhar para o adiamento”, afirmou Alckmin, que disse ontem que o governo não tinha feito ainda uma proposta neste sentido.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) sugeriu estender o prazo para 90 dias. “O que temos aqui é um verdadeiro perde-perde, não faz sentido”, reclamou Ricardo Alban, presidente da confederação. “Saímos do piso tarifário, de 10%, para o teto, de 50%, sem nenhuma motivação econômica.”
De acordo com Alckmin, “se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”.
A ideia do comitê é debater alternativas e estratégias de posicionamento diretamente com os setores produtivos.
A coordenação é de Alckmin, também ministro da Indústria e do Comércio, com participação dos ministros Rui Costa, da Casa Civil, Fernando Haddad, da Fazenda, Simone Tebet, do Orçamento, e Silvio Costa Filho, do Portos e Aeroportos, além do Itamaraty.
Alckmin abriu a reunião refutando a justificativa econômica da gestão Trump.
“Dos dez principais produtos, oito são [com] tarifa zero: não pagam nenhum imposto para entrar no Brasil, e a tarifa média de importação é de 2,7%”, afirmou o vice-presidente, questionando o argumento de que haveria déficit para os Estados Unidos.
O governo está convencido que a decisão foi política e que as justificativas econômicas apresentadas por Trump não tem fundamento.
Relatório publicado na semana passada pela Amcham Brasil revela que o superávit comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil alcançou US$ 1,7 bilhão.
A cifra representa um aumento de aproximadamente 500% em comparação com o mesmo período de 2024.
Os encontros não se limitarão ao dia de hoje. O objetivo do governo é falar com os setores “que têm mais relação comercial com os Estados Unidos”, incluindo empresas e instituições norte-americanas.
Para isso, o governo também quer ajuda da iniciativa privada brasileira. “Foi colocado o empenho do setor produtivo para conversar com seus congêneres norte-americanos. É importante, porque repercute também nos Estados Unidos”, afirmou Alckmin.
Americanos também reclamam
Empresários norte-americanos também têm reclamado das tarifas. A maior entidade de empresários do mundo, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos, se uniu à AmCham Brasil para pedir o fim das tarifas.
A instituição tem hoje quase 3 milhões de associados e é um dos principais grupos de lobby do setor privado no país.
As ideias devem funcionar como um plano B enquanto o Itamaraty tenta resolver a questão.
O presidente Lula tem dito que o governo precisa se manter “firme” frente às ameaças, mas que, até que alguma ação seja efetivamente tomada, o diálogo e a negociação são as melhores saídas.
Lei da Reciprocidade
As soluções ainda estão sendo debatidas, mas Lula insiste que usará a Lei da Reciprocidade. De acordo com o site UOL, que apelar para a lei está em uma das últimas opções, em caso de não avanço do diálogo com o governo norte-americano, e, por isso, só deverá ocorrer a partir de 1º de agosto, se as promessas de fato forem cumpridas.
O decreto que regulamenta a lei, aprovada pelo Congresso em abril, foi publicado hoje.
Alckmin afirmou que o Brasil ainda não pediu adiamento ou redução das taxas.
“O governo não pediu nenhuma prorrogação de prazo e não fez nenhuma proposta sobre alíquota, sobre percentual”, afirmou o vice-presidente. “O que nós estamos fazendo é ouvindo os setores mais envolvidos para o setor privado também participar e se mobilizar com seus congêneres e parceiros dos Estados Unidos.”
O governo avalia que os empresários podem ajudar com pressão e discurso. Setores como o agronegócio e a indústria (dois dos mais atingidos com as possíveis futuras tarifas) têm influência grande tanto com a opinião pública quanto com o Congresso. Ao alinhar o discurso, o gestão petista espera que eles ajudem na interlocução e em possíveis pressões internas e externas contra as medidas.
Lula anunciou a ideia na última quinta-feira, dia seguinte ao informe de Trump, e os detalhes foram combinados em reunião ontem.
O presidente recebeu representantes de sete ministérios, do Banco Central e do Senado para debater possíveis reações e amenizar o impacto da retaliação com tarifas de 50% em um encontro de mais de quatro horas no Palácio da Alvorada.
Participaram desta primeira reunião:
- Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer;
- Ricardo Alban, presidente da CNI;
- Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo);
- José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos);
- Haroldo Ferreira, presidente-executivo da AbiCalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados);
- Janaína Donas, presidente-executiva da Abal (Associação Brasileira do Alumínio);
- Fernando Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção);
- Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada
- Paulo Hartung, presidente-executivo da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores);
- Armando José Giacomet, vice-presidente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente);
- Rafael Lucchesi, CEO da Tupy;
- Giovanni Francischetto, superintendente da CentroRochas (Associação Brasileira de Rochas Naturais);
- Edison da Matta, diretor jurídico e de comércio exterior do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores);
- Cristina Yuan, diretora de Relações Institucionais do Instituto Aço Brasil;
- Daniel Godinho, diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da WEG;
- Fausto Varela, Presidente Sindifer (Sindicato da Indústria do Ferro);
- Bruno Santos, diretor-executivo Abrafe (Associação Brasileira dos Produtores de Ferroligas e Silício Mético);
- Alexandre Almeida, diretor do Rima