
A execução de um ex-delegado, a sombra do crime organizado e o esforço do Estado para fortalecer a segurança em São Paulo
Especial São Paulo TV | Segurança Pública
O assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, de 63 anos, em uma emboscada no litoral paulista no último dia 15 de setembro, reacendeu um tema que atravessa gerações: o combate ao crime organizado. Fontes, que durante sua trajetória esteve na linha de frente contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), era jurado de morte desde 2006 e acabou executado de forma brutal.
O episódio, que comoveu autoridades e população, expõe a dimensão do desafio. A violência organizada não é novidade — há mais de três décadas, São Paulo enfrenta facções criminosas que se sofisticaram em estrutura, alcance e influência. Se o problema é histórico, a resposta atual do governo estadual aponta para um enfrentamento mais eficaz e integrado.
O crime organizado e sua força de atuação
A execução de Ruy Fontes mostra a capacidade de planejamento e de longo alcance das facções criminosas. Nascido nas penitenciárias paulistas dos anos 1990, o PCC expandiu-se nacional e internacionalmente, mantendo redes de comando e de negócios ilícitos.
O caso, no entanto, também expôs a agilidade da reação do Estado. A Secretaria da Segurança Pública, sob a liderança do secretário Guilherme Derrite, rapidamente identificou suspeitos, reuniu provas forenses e solicitou prisões preventivas.

O governador Tarcísio de Freitas foi enfático: o Estado “não perderá a disputa contra o crime” e determinou prioridade máxima nas investigações, com atuação integrada das polícias Civil, Militar e Técnico-Científica. O crime passou a ser tratado como questão de honra do governo.
Segurança: um desafio estrutural e de longo prazo
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 mostra que, embora o Brasil tenha registrado queda nas Mortes Violentas Intencionais — 20,8 por 100 mil habitantes em 2024, o menor índice em mais de uma década —, a luta contra o crime organizado vai além dos números.
Em São Paulo, a Polícia Civil é reconhecida por sua tradição em inteligência e investigações de ponta. Porém, o desafio não se limita ao trabalho policial: envolve brechas legais, reincidência criminal e a dificuldade do sistema prisional em neutralizar a atuação de líderes de facções.
É nesse ponto que o governo estadual busca avançar, reforçando investimentos em inteligência policial, defendendo mudanças legislativas e valorizando as carreiras da segurança.
As iniciativas do atual governo Tarcísio e Freitas
Nos últimos meses, medidas estratégicas foram implementadas pelo governo Tarcísio para fortalecer a segurança pública em São Paulo:
Reajuste salarial histórico: em maio, foi sancionado aumento médio de 20,2% para as forças de segurança, contemplando policiais civis, militares, técnico-científicos, além de aposentados e pensionistas. Foi a maior valorização em mais de uma década.
Tecnologia e inteligência: ampliação de recursos para monitoramento digital, uso de bancos de DNA, reconhecimento facial e integração de dados, essenciais para antecipar a atuação de facções.
Força-tarefa permanente: criação de grupos especializados em crimes de grande repercussão, como o caso de Ruy Fontes, com apoio de inteligência e cooperação interestadual.
Proteção a ex-agentes: estudo inédito para oferecer proteção especial a ex-delegados, policiais e agentes que permanecem sob risco após a aposentadoria.
Defesa de mudanças legais: o governador tem defendido mais autonomia aos estados para legislar sobre questões criminais, garantindo penas mais duras e maior rigidez contra líderes de facções.
Essas medidas refletem uma visão de futuro que une modernização estrutural e valorização profissional.
O papel da legislação
A repressão imediata não é suficiente. Hoje, brechas jurídicas ainda permitem progressão de regime ou liberdade em audiências de custódia a criminosos de alta periculosidade.
O governo paulista defende mudanças como:
penas mais rígidas para crimes ligados a facções;
critérios mais severos de progressão de regime;
maior articulação entre estados e União no combate ao crime organizado.
Opinião de especialista
Segundo o advogado, Arles Gonçalves Junior, advogado e presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-SP (2010–2018):
“Na minha opinião, além das mudanças legislativas é necessário reconhecer que essas facções criminosas praticam terrorismo, a população vive aterrorizada nas localidades que estão sob controle dessas organizações criminosas.
O crime organizado cresceu em São Paulo por conta de uma política de segurança pública equivocada, nos últimos 40 anos o Estado investe mais no policiamento ostensivo do que na investigação, todavia, seria muito mais eficiente investir na investigação, para elucidar quase todos os crimes e consequentemente produzir inquéritos policiais robustos que possibilitem uma efetiva condenação dos criminosos.
Na prática sabemos que é praticamente impossível evitar que um crime aconteça, não há como colocar um policial em cada esquina, em cada rua, os bandidos sempre aguardam a ausência dos policiais em determinado local para praticar seus crimes.
Na minha opinião é muito mais eficiente aumentar a eficiência da investigação criminal, pois dessa forma o criminoso saberá que ao cometer um crime certamente será identificado e preso pela polícia, a certeza da punição terá um efeito pedagógico mais eficiente.
Todavia, as leis devem ser modificadas para que os criminosos efetivamente cumpram suas penas, porque hoje os criminosos possuem mais direitos do que deveres, são mais protegidos pela legislação do que suas vítimas.”
Fechamento
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes não pode ser visto como fato isolado. Ele simboliza tanto o risco de quem enfrenta o crime quanto a urgência de avançar em políticas consistentes de fortalecimento da segurança pública.
O governo de São Paulo mostra que não se furtará desse embate. Com investimentos em inteligência, valorização das carreiras e propostas legislativas, o Estado reafirma seu compromisso de não apenas reagir, mas se antecipar ao crime.
A memória de Ruy Fontes, assim, transforma-se em combustível para que São Paulo siga firme na construção de uma segurança pública moderna, eficaz e capaz de proteger cidadãos e servidores.