
PEC da Blindagem: Centrão costura acordo com o PT para barrar anistia ampla a Bolsonaro em troca de proteção contra investigações
Da Redação da São Paulo Tv com informações do Jornal Estado de São Paulo
A cena política em Brasília voltou a ser marcada por manobras de bastidores, contradições e acordos de ocasião. Por trás da Proposta de Emenda Constitucional conhecida como PEC da Blindagem, o Centrão e setores do PT construíram, nas últimas horas, uma aliança silenciosa para conter a tentativa do PL de aprovar uma anistia ampla, geral e irrestrita ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista de 8 de janeiro.
A contrapartida é clara: em troca de votos contra o projeto bolsonarista, líderes do Centrão exigem apoio para aprovar a blindagem de parlamentares contra prisões e processos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Centrão x Bolsonaro: lealdades sob negociação
O movimento expõe a fragilidade da base de Bolsonaro, que contava com o apoio do Centrão para acelerar a anistia. Mas o bloco político, pressionado pelas investigações da Polícia Federal sobre corrupção e desvios de emendas, optou por um pacto de sobrevivência, priorizando a autoproteção.
O resultado foi a derrota do requerimento de urgência do projeto do PL em plenário. Deputados do Centrão votaram contra a proposta, alinhando-se ao governo. Ainda assim, a postura não significou rompimento definitivo com Bolsonaro: líderes do grupo mantêm gestos simbólicos de apoio ao ex-presidente porque precisam dele como avalista da eventual candidatura de Tarcísio de Freitas em 2026.
PT dividido e a contradição do discurso
O acordo, porém, abriu fissuras internas no PT. Em reunião com o presidente do partido, Edinho Silva, deputados e senadores mostraram forte divisão. Parte da bancada considerou a aliança com o Centrão uma afronta ao discurso de Lula contra privilégios. No plenário, a divergência ficou explícita: 51 deputados petistas votaram contra a PEC da Blindagem, enquanto 12 foram favoráveis.
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, também participou de articulações paralelas no Planalto, recebendo ministros do Centrão e do MDB. A estratégia incluiu até mesmo liberar temporariamente ministros licenciados para votarem no Congresso contra a anistia, reforçando o peso governista no embate.
“Jabutis” legislativos e interesses ocultos
O apelido “PEC da Blindagem” não surgiu por acaso. O texto inclui “jabutis” – dispositivos que dificultam prisões e processos contra parlamentares –, atendendo diretamente aos interesses de quem hoje enfrenta ações no STF. A leitura no Congresso é de que, para o Centrão, a prioridade não é defender Bolsonaro, mas sim blindar sua própria base de processos de corrupção.
Um tabuleiro em movimento
A situação ganha contornos ainda mais complexos diante da condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão pelo STF. Enfraquecido politicamente, ele ainda tenta se agarrar à narrativa de perseguição e aposta no indulto retroativo como saída. Mas a confissão, ainda que depois negada, do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de que houve um “planejamento” de golpe, minou parte da sustentação de sua defesa.
No Senado, o presidente Davi Alcolumbre já sinalizou que qualquer proposta de indulto retroativo ou impeachment de ministros do STF será barrada. Mas os bolsonaristas jogam no longo prazo: acreditam que, se conquistarem maioria na Casa em 2026, o cenário pode mudar.
Conclusão
O episódio da PEC da Blindagem evidencia que, em Brasília, alianças são transitórias e interesses próprios prevalecem sobre fidelidades políticas. O Centrão mostra estar disposto a rifar Bolsonaro se isso significar mais poder e proteção jurídica. Enquanto isso, o PT enfrenta a contradição de negociar privilégios que, em tese, combate.
No fim, como ensina a metáfora repetida nos corredores do Congresso: “jabuti não sobe em árvore; se está lá, ou foi enchente, ou mão de gente.”
