
Tarifação dos EUA pode gerar até 31 mil processos trabalhistas no Brasil, aponta estudo
Da Redação da São Paulo TV – com informações de Estadão, CNN Brasil e Fiemg
São Paulo, 15 de agosto de 2025 – O impacto do chamado tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros já começa a ser medido em números concretos e preocupantes. Um levantamento do Grupo Pact Insights, com base em projeções da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e em dados oficiais do Caged e do CNJ, estima que a medida poderá resultar em até 31 mil novas ações trabalhistas nos próximos dois anos.
Segundo o estudo, o Brasil pode perder 146 mil empregos até 2027 em consequência das restrições comerciais. A partir desse dado, foram traçados dois cenários: um conservador, com cerca de 28 mil novos processos, e outro de maior impacto, que aponta para 31 mil ações a mais na já sobrecarregada Justiça do Trabalho, que hoje acumula 5,1 milhões de casos pendentes.
O peso da litigiosidade
O país mantém, historicamente, uma taxa elevada de litigância trabalhista: aproximadamente 20% dos desligamentos resultam em ação judicial. Em 2024, esse índice chegou a 20,2%, com 4,83 milhões de processos diante de 23,9 milhões de demissões. Apenas no primeiro semestre de 2025, já foram 2,45 milhões de ações relacionadas a 12,6 milhões de desligamentos.
“O principal fator para o aumento de processos é a falta de pagamento das verbas rescisórias. Praticamente todo trabalhador desligado sem acerto entra na Justiça”, explica Lucas Pena, CEO do Grupo Pact Insights.
Especialistas acreditam que, além da rescisão não paga, devem se multiplicar casos ligados a redução de salários, suspensão de benefícios e pedidos de reintegração. Para a jurista Vólia Bomfim, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, a tendência é de que a Justiça mantenha a proteção ao trabalhador, sem transferir a ele os riscos econômicos de crises externas.
Setores mais afetados
De acordo com a Fiemg, os ramos de siderurgia e aço sem costura, produtos de madeira e calçados e couro estão entre os mais vulneráveis. As perdas podem chegar a quedas de 8% no faturamento e no número de empregos desses setores.
Além disso, o impacto sobre a economia brasileira não se restringe ao mercado de trabalho. O Produto Interno Bruto (PIB) pode encolher 0,22% no próximo biênio, aprofundando a pressão sobre a indústria.
Reação do governo
Para tentar conter os efeitos, o governo federal anunciou uma medida provisória liberando R$ 30 bilhões em crédito a setores atingidos. A ação, contudo, é vista como paliativa. “O risco maior é de demissões em massa sem negociação coletiva e sem o devido pagamento, o que inevitavelmente aumenta a judicialização”, alerta Pena.
Conflito político e econômico
O tarifaço foi anunciado pela administração Trump, com apoio público do deputado Eduardo Bolsonaro e do influenciador Paulo Figueiredo, que defendem sanções como resposta às decisões do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal. Para a indústria e para o mercado de trabalho, porém, o custo dessa guerra política pode ser devastador.
✍️ Da Redação da São Paulo TV – com informações de Estadão, CNN Brasil e Fiemg