Da redação da São Paulo Tv jornalista Bene Correa

O presidente Donald Trump anunciou nesta quarta-feira (6) a aplicação de uma taxa adicional de 25% sobre as importações da Índia. A medida é uma retaliação ao fato de a Índia comprar petróleo da Rússia.
A nova taxa de 50% está programada para entrar em vigor daqui a 21 dias. A sobretaxa é também uma retaliação à Rússia, que não atendeu aos pedidos feitos pelos Estados Unidos para encerrar a guerra com a Ucrânia.
Recado ao Brasil
No decreto, Trump ameaça outros países que importam óleo “direta ou indiretamente” da Rússia, como é o caso do Brasil.
O presidente norte-americano diz que se sua equipe “considerar apropriado, determinará se algum outro país está importando, direta ou indiretamente, petróleo da Federação Russa”.
O texto diz que nesse caso, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, “deverá recomendar se eu devo tomar alguma medida em relação a esse país e, em caso afirmativo, em que medida, inclusive se devo impor uma alíquota adicional ad valorem de 25% sobre as importações de artigos provenientes desse país”.
O governo brasileiro teme ser alvo de um adicional na sua taxa de 50% por ser uma das nações que importa óleo da Rússia.
Em 2024, o Brasil importou US$ 5,4 bilhões de diesel russo, um recorde na série histórica da balança comercial.
Aumento da imnportação
A importação do petróleo russo é crescente desde 2022, quando quintuplicou após as sanções internacionais aplicadas a Moscou devido à guerra na Ucrânia e ao redirecionamento das cargas para outros mercados.
Em 2023, o valor multiplicou por 47 e, em 2024, houve novo aumento, de 19%.
Neste ano, mais de 60% do combustível importado veio do país de Vladimir Putin.
No entanto, dados recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), indicam que os Estados Unidos passaram a Rússia em julho e foram o maior fornecedor brasileiro de óleo diesel no mês, revertendo a liderança russa que já durava meses.
Definição de petróleo russo
No decreto em que amplia as tarifas, Trump deixa claro que o adicional à Índia foi aplicado porque o país “está importando, direta ou indiretamente, petróleo da Federação Russa”.
O texto traz a definição do que seria petróleo da Rússia:

• “Significa petróleo bruto ou derivados de petróleo extraídos, refinados ou exportados a partir da Federação Russa, independentemente da nacionalidade da entidade envolvida na produção ou venda desse petróleo bruto ou derivados”.
  O decreto também define que a “importação indireta” significa comprar o produto da Rússia por meio de intermediários.
  Alerta no agronegócio
  A medida anunciada nesta quarta-feira trata especificamente da importação de óleo, mas o agronegócio brasileiro teme ser impactado ainda pela relação comercial com a Rússia em torno de um produto essencial ao setor: os fertilizantes.
  Representantes do agro, tanto de empresas quanto da bancada ruralista no Congresso, fizeram chegar o alerta ao Itamaraty sobre possíveis sanções que o Brasil pode sofrer, a partir da sexta-feira (8), devido às negociações com a Rússia, que hoje é o maior vendedor de fertilizantes ao Brasil.
  Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), disse que o governo brasileiro tem que estar em alerta para o risco de uma retaliação dos Estados Unidos envolver proibições de compras de produtos.
  “A posição dos Estados Unidos que foi dada à Rússia foi que, se ela não resolvesse o problema da guerra, eles iriam abrir retaliações que envolveriam quem compra produtos da Rússia. E nós compramos petróleo e fertilizantes, que são muito sensíveis ao agronegócio”, comentou.
  Números do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) revelam que mais de 90% dos fertilizantes utilizados são importados. A Rússia é o principal país fornecedor, respondendo sozinha por 30% do que é importado, superando a China, Canadá e Estados Unidos.
  Os senadores que estiveram em Washington no mês passado também dizem ter recebido alertas tanto de empresários como de parlamentares da oposição e aliados ao governo de que o Congresso americano deve aprovar uma lei anti-Rússia que pode atingir o Brasil.
  O governo Trump apresentou um projeto de lei em abril no Congresso dos Estados Unidos que propõe impor sobretaxa de até 500% sobre produtos importados de países que continuem comprando mercadorias da Rússia.