
Tarifaço de Trump já provoca demissões e anúncio de férias coletivas no setor de madeira
Da redação da São Paulo Tv jornalista Bene Correa com informações da Folha de São Paulo
A taxa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve entrar em vigor na sexta-feira (1).
No entanto, um setor da economia brasileira já está sentindo o efeito negativo do tarifaço.
Trabalhadores da indústria de madeira processada começam a entrar em férias coletivas e algumas empresas já iniciaram as demissões.
A venda de madeiras para os Estados Unidos foram paralisadas antes mesmo de a taxa entrar em vigor, provocando um temor de que o setor entre colapso, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci).
“Por precaução, muitos clientes postergaram embarques ou cancelaram contratos até que se esclareça o imbróglio da taxação”, afirma Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci.
Ele adverte que uma sobretaxa de 50% para as exportações brasileiras, como determinado inicialmente por Trump, deixará o setor de madeira “fora de jogo” no mercado americano.
“Isso fez com que nossas empresas acabassem tomando medidas internas de diminuição de produção, de corte de turnos. Muitas estão com férias coletivas em curso, e, infelizmente, já foi anunciado um pequeno número de demissões”, diz.
Mercado estratégico
Para os fabricantes de madeiras processadas, o mercado americano é considerado estratégico.
Números da Abimci revelam que o setor é responsável por cerca de 180 mil empregos diretos no Brasil e, na média, 50% da produção é vendida para aos Estados Unidos. Em alguns casos, 100% da produção são exportados para o país de Donald Trump.
A madeira brasileira é utilizada principalmente na construção de casas e produção se concentra especialmente na região Sul, com cerca de 90% da capacidade instalada nessa região.
Demissão
Pelo menos uma indústria confirmou cortes devido à insegurança gerada pela promessa de tarifaço.
ASudati, que produz compensados de madeira e MDF no Paraná e em Santa Catarina, emprega cerca de 2,8 mil trabalhadores e já anunciou a extinção de 100 postos de emprego.
As unidades afetadas ficam nos municípios paranaenses de Ventania, que fica a 220 km de Curitiba, e Telêmaco Borba, localizado a 240 km da capital.
“Após cuidadosa análise, a medida se mostrou necessária para garantir o equilíbrio financeiro e a sustentabilidade da operação, sem comprometer os compromissos com clientes, fornecedores e parceiros. A decisão, ainda que difícil, está sendo conduzida com responsabilidade e respeito”, afirmou a Sudati em nota.
Férias coletivas
A BrasPine decidiu não demitir por enquanto, mas anunciou férias coletivas para 1,5 mil dos 2,5 mil funcionários diretos nos municípios de Telêmaco Borba e Jaguariaíva, que fica a 220 km de Curitiba.
A direção da empresa informou que a decisão foi provocada pela perda de competitividade frente a exportadores que operam com tarifas menores nos Estados Unidos, com taxas entre 10% e 20%.
O CEO da BrasPine, Eduardo Loges, afirmou em nota que a decisão pelas férias coletivas foi estratégica. A intenção é proteger os empregos e a continuidade da companhia no longo prazo.
Outra empresa do setor que decidiu dar férias coletivas é a Millpar. A medida atinge cerca de 720 funcionários de um total de 1,1 mil em duas unidades, uma em Guarapuava e outra em Quedas do Iguaçu, ambas no Paraná.
A produção da Millpar tem os Estados Unidos como o principal destino para suas exportações. Em nota, a empresa comunicou que a produção está parada, mantendo em atividade apenas as áreas administrativas.
“Estamos tomando decisões com base em dados concretos, visão de longo prazo e foco na sustentabilidade do negócio”, afirmou o CEO da Millpar, Ettore Giacomet Basile.
Busca de novos mercados difícil
A Abimci avalia que encontrar parceiros comerciais substitutos, em caso de sobretaxa de 50% nos Estados Unidos, não seria uma tarefa simples, nem rápida para a indústria de madeira brasileira.
“O volume que a gente coloca nos Estados Unidos não cabe em nenhum outro mercado”, diz Paulo Roberto Pupo.
Segundo ele, é necessário um avanço urgente nas negociações diplomáticas entre o governo brasileiro e o americano.
“Férias coletivas são paliativas, duram duas ou três semanas. A preocupação das empresas é quando voltarem, o que terão de fazer”, o superintendente da Abimci.