
O Conflito EUA-China e o Brasil no Tabuleiro Global
Por São Paulo TV Internacional – com base em The Economist | Edição especial de análise geopolítica e econômica | 10/05/2025
O mundo está sendo reposicionado entre potências em confronto, tarifas em escalada e instituições multilaterais enfraquecidas. No centro da disputa: Estados Unidos e China. À margem, países como o Brasil observam, com apreensão e oportunidade, as rachaduras na ordem econômica internacional.
A guerra comercial entre EUA e China voltou ao centro da agenda global. Sob a retórica inflamada do ex-presidente Donald Trump — que ressurge como protagonista nas eleições americanas — os Estados Unidos elevam tarifas, reforçam sanções e adotam posturas unilaterais, que não apenas desafiam a China, mas colocam em xeque a arquitetura do livre-comércio global construída após a Segunda Guerra.
Trump defende abertamente o protecionismo como política de Estado. Reinstaurou tarifas sobre centenas de produtos chineses, sob o argumento de combater a manipulação cambial, o roubo de propriedade intelectual e a concorrência desleal. Do outro lado, o presidente Xi Jinping responde com retaliações, apoio a indústrias estratégicas e reformas que reposicionam a China como líder na nova economia digital e verde.
Esse confronto comercial é, na prática, um embate geopolítico pela hegemonia do século XXI.
O custo do confronto
O FMI e a OCDE já apontam efeitos diretos no crescimento global. A projeção de expansão da economia mundial para 2025 caiu para 3,1%, e a inflação nos EUA se mantém pressionada — 5,4%, mesmo após ajustes monetários.
O comércio internacional desacelera. As importações americanas de produtos chineses caíram para US$ 29,4 bilhões em março de 2025, o menor patamar desde a pandemia. A desorganização das cadeias globais de valor gera incerteza, paralisa investimentos e pode iniciar um ciclo de estagnação comercial prolongada.
A própria Organização Mundial do Comércio se vê deslegitimada: os EUA bloquearam seu órgão de apelações, e a China já iniciou processos contra as tarifas americanas, questionando violações sistemáticas às normas do sistema multilateral.
O Brasil entre riscos e chances
Ao Brasil, cabe mais do que apenas assistir. A disputa entre as duas maiores economias do mundo afeta diretamente o agronegócio, a indústria, o câmbio e a diplomacia brasileira.
Ganhos são visíveis: a soja brasileira se tornou a principal fornecedora para a China, com exportações que ultrapassaram 74 milhões de toneladas em 2024, gerando uma receita recorde de US$ 36 bilhões. Também houve aumento nas vendas de carnes, algodão e milho.
Mas os riscos são latentes. A indústria nacional sofre com tarifas sobre aço e alumínio impostas pelos EUA, que desestimulam exportações e pressionam margens. A volatilidade cambial alimenta a inflação interna, enquanto o impasse global reduz perspectivas de novos acordos comerciais relevantes.
O caminho brasileiro
O Brasil precisa reforçar seu papel como mediador global, defensor do multilateralismo e protagonista em blocos como o G20, BRICS e Mercosul. Nossa inserção internacional não pode depender apenas da exportação de commodities. Devemos investir em tecnologia, infraestrutura logística e segurança jurídica para atrair investimentos produtivos — não apenas especulativos.
Na política comercial, é hora de pragmatismo: firmar acordos bilaterais com Ásia e Europa, modernizar a política de exportação e fomentar a indústria nacional com inteligência regulatória, e não com subsídios ineficientes.
Conclusão: Da guerra comercial ao pacto civilizatório
O conflito entre Estados Unidos e China é mais que uma guerra tarifária — é um divisor de águas para a globalização. Ele redefine a lógica de produção, consumo, emprego e até valores democráticos.
O Brasil, por sua vocação plural, pode — e deve — ser a ponte entre os mundos. Mas isso exigirá visão de longo prazo, responsabilidade fiscal, estabilidade institucional e liderança com coragem moral e intelectual.
Como jornalista e gestor público, tenho convicção: é nas crises que nascem as grandes oportunidades. Que o Brasil esteja preparado para ser protagonista e não refém das potências.
