
Taxa de juros não deve apresentar queda nos próximos meses, avaliam economistas
Da redação da São Paulo Tv Bene Correa com informações da Folha de São Paulo
A taxa básica de juros deve permanecer em torno de 15% até o início do ano que vem, segundo estimativa de economistas e especialistas que acompanham a política monetária.
Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nova alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros Selic, elevando de 14,75% par 15% ao ano.
“Até dezembro deste ano a Selic vai ficar em 15% e, na primeira reunião do ano que vem, vai começar uma queda”, acredita Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.
Segundo ele, nas próximas reuniões do Copom, mesmo com a manutenção da taxa no mesmo patamar, as atas devem sinalizar que em algum momento um ciclo de queda vai começar.
Recados na nota do Copom
Já o economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel de Barros, estima que o juro fique estável em 15% pelos próximos seis meses.
Para ele, houve duas surpresas nesta quarta-feira:
- O aumento da taxa
- E o tom do comunicado do Copom, com frases que ele classificou como “hawkish”, que é um jargão do mercado financeiro para se referir a política rigorosa ou restritiva
Barros chamou a atenção para um trecho do comunicado que diz que “para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
A expressão “bastante prolongado” é usada três vezes na nota do Banco Central.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da APCE, isso significa pelo menos de seis a oito meses de manutenção do atual patamar de juros. “É para ancorar as expectativas no período relevante, que é de 2026 para frente”, afirma Perfeito.
Segundo ele, a alta de 0,25 ponto percentual serve mais para sinalizar, porque na prática não faz tanta diferença se os juros são de 14,75% ou 15%.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que pode ser que a taxa nominal não fique exatamente em 15% o tempo inteiro.
Para o economista, a inflação dos alimentos não está tão alta e os juros altos devem começar a fazer efeito no setor de serviços, mas pode haver uma mudança “a depender do que vier pela frente”.
“O cenário é uma queda moderada no final do ano por causa desse cenário de inflação um pouco mais comedida, desde que não haja turbulência negativa no ano que vem.”
Para ele, o BC provavelmente vai evitar mexer nos juros durante o período eleitoral do ano que vem. Por isso, as mudanças devem acontecer antes de as eleições realmente entrarem em pauta.
Empresários criticam alta
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) afirmou que “a medida pode restringir ainda mais os investimentos produtivos, ampliar os custos de produção, reduzir a competitividade da indústria brasileira e levar a impactos negativos sobre a geração de empregos e a renda das famílias.”
Na visão do presidente da entidade, Flávio Roscoe, o Banco Central e o governo têm adotado medidas antagônicas: enquanto a autoridade monetária faz uma política contracionista, o governo expande os gastos públicos.
“Não há alinhamento. O Banco Central aumenta as taxas de juros e o governo segue em ciclo de expansão para que o cenário econômico não piore. O dinheiro público é gasto em forças que se anulam. Por isso que não tem o efeito da taxa de juros.”
Para Roscoe, a política monetária vai continuar restritiva enquanto não houver equilíbrio nas contas públicas.