
SÃO PAULO TV | ESPECIAL Entre Céu e Terra: o Conclave que selará o futuro da Igreja após a morte do Papa Francisco
SÃO PAULO TV | ESPECIAL VATICANO fonte VATICAN NEWS foto Crédito: Daniel Ibáñez/EWTN News.
Com a morte do Papa Francisco, encerra-se uma era marcada por reformas, aproximação com os marginalizados e o apelo constante à paz. Inicia-se, agora, um novo tempo na história da Igreja Católica: o da escolha do seu novo pastor. A partir de 7 de maio, a Capela Sistina, em Roma, será palco do 76º Conclave da história — e do 26º realizado sob o olhar solene do “Juízo Final” de Michelangelo. Ali, longe dos olhos do mundo, os cardeais eleitores irão discernir o nome do 267º Sucessor de Pedro.
O Conclave: mistério, tradição e poder espiritual
A palavra “Conclave”, do latim cum clave (“com chave”), evoca tanto o local quanto o espírito do processo: um espaço fechado, isolado de influências externas, onde o futuro da Igreja é decidido sob oração, reflexão e sigilo absoluto. Não se trata apenas de uma eleição: o Conclave é uma fusão entre o rito sagrado, a diplomacia e a herança histórica de dois milênios de cristianismo.
Hoje, o Conclave representa o ápice da tradição eclesial e da continuidade apostólica. Mas nem sempre foi assim. Por quase 1.200 anos, o Papa era escolhido por aclamação do clero romano e da comunidade local. Com o tempo, a interferência de imperadores e poderes seculares levou à necessidade de uma estrutura mais protegida e autônoma.
Foi em 1059 que o Papa Nicolau II, por meio da bula In Nomine Domini, restringiu o direito de eleição aos cardeais. Em 1179, Alexandre III estabeleceu a exigência da maioria qualificada de dois terços dos votos — critério que permanece em vigor.
O Conclave que nasceu de um cerco
O mais emblemático dos Conclaves aconteceu em Viterbo, em 1268. Após dois anos e nove meses sem consenso, os cidadãos da cidade — exaustos com a demora — trancaram os 18 cardeais no palácio papal, selaram as portas com tijolos e até removeram o telhado. A pressão surtiu efeito: foi eleito o então arquidiácono Gregório X, que mais tarde, em 1274, oficializou o Conclave com a constituição Ubi Periculum, instituindo regras que vigoram até hoje, como o isolamento total dos eleitores e o voto secreto.
A liturgia do silêncio e da escolha
Desde então, o Conclave é mais do que um evento. É um tempo suspenso. Na Capela Sistina, sob os afrescos do Gênesis e do Juízo Final, os cardeais — todos com menos de 80 anos, conforme norma instituída por Paulo VI — se reúnem em escrutínios sucessivos. A cada votação, um ritual: cédulas manuscritas, contagem precisa, queima dos votos, e a fumaça que se eleva pela chaminé: preta, se não houve eleição; branca, se o mundo pode enfim ouvir o anúncio: Habemus Papam.
Regras e reformas no século XXI
O atual processo é regido pela constituição Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996 e atualizada por Bento XVI em 2013. Após 34 votações sem sucesso, os cardeais concentram seus votos nos dois nomes mais votados, embora permaneça a exigência da maioria de dois terços.
Desde 1945, com Pio XII, e nas reformas subsequentes, a Igreja aprimorou a integridade do processo, incluindo o fim de cargos durante a Sé Vacante, salvo para o Camerlengo e o Penitencieiro-Mor, e a proibição de qualquer forma de veto por parte de governos ou potências externas.
O olhar do mundo sobre o 267º Papa
A eleição do novo Papa não é apenas uma decisão eclesiástica. É também um evento de impacto global. Líder de mais de 1,3 bilhão de católicos, o próximo Pontífice será chamado a navegar os desafios do nosso tempo: as guerras e conflitos geopolíticos, a emergência climática, a crise de fé no Ocidente, a desigualdade social e o avanço das tecnologias que redesenham a vida humana.
A Igreja se encontra, mais uma vez, entre a tradição e a renovação. O novo Bispo de Roma terá, como seus predecessores, que unir fé e razão, passado e futuro, conservando a essência da doutrina ao mesmo tempo em que responde aos clamores de um mundo em transformação.
E assim, em silêncio, os cardeais se preparam. A Capela Sistina se fecha. E os olhos da Terra se voltam ao Céu, aguardando o nome que ecoará do balcão de São Pedro: aquele que assumirá a mais antiga e desafiadora missão da cristandade.
Para conhcer mais sobre o Conclave acesse Conclave, uma história entre a Idade Média e o futuro – Vatican News