
Pessoas esgotadas no topo aparentam que o sucesso custa caro demais: como preparar líderes femininas da GenZ
Por Thaís Roque, mentora de carreiras
Thaís Roque, mentora de carreiras. Imagem: Divulgação
Muito se fala sobre a Geração Z no mercado de trabalho: são conectados, atualizados, tecnicamente preparados e, por isso, altamente exigentes com os ambientes que escolhem. Mas, apesar de tantas características técnicas desenvolvidas, as habilidades emocionais ainda estão em construção e precisam ser prioridade para os jovens dessa geração que querem se tornar líderes, principalmente entre as mulheres. E a principal delas é a autoconfiança, sustentada pelo autoconhecimento.
Essas jovens profissionais não são convencidas a aceitar e permanecer em um emprego apenas por cargos ou salários. As pesquisas apontam que elas buscam coerência, impacto e liberdade no universo corporativo. Essa liberdade, porém, exige uma segurança interna que só nasce ao reconhecer as próprias forças, entender as vulnerabilidades e se apropriar das conquistas sem pedir desculpas por elas. Esse é o primeiro passo para essas jovens ocuparem espaços com firmeza e autenticidade.
O que falta na formação estratégica dessas mulheres para que elas desenvolvam a autoconfiança é uma narrativa própria. Elas se preparam, estudam, entregam, performam. Mas, muitas vezes, não se colocam. Não por falta de competência, mas por ausência de permissão interna e repertório estratégico. Crescem ouvindo que devem ser discretas, que o reconhecimento virá com o tempo, que não devem se autopromover. Resultado: acabam acreditando que liderar é para outras pessoas.
Acontece que olhar para a Geração Z pensando em crianças ficou para trás. Essa geração tem hoje, em média, 28 anos e as empresas que desejam preparar suas futuras líderes precisam entender onde investir. É necessário criar, desde cedo, ambientes de escuta, programas de mentoria e experiências de desenvolvimento humano que incentivem reflexões sobre propósito, identidade profissional e visão de futuro. A liderança não nasce com um crachá. Ela começa com o sentimento íntimo de que você tem algo único para entregar ao mundo e isso é, antes de tudo, emocional.
Por isso, quando falamos em formar líderes femininas, precisamos incluir temas como autopromoção saudável, inteligência relacional, networking estratégico e oratória. E mais: é essencial criar espaços seguros onde elas possam treinar essa liderança, seja em projetos internos, mentorias reversas ou ambientes simulados. Liderar é um músculo que se desenvolve, não um talento que se descobre por acaso.
As empresas também precisam revisar, com honestidade, as estruturas que sustentam um modelo de liderança excludente e masculinizado. As mulheres precisam ver outras mulheres que as inspirem para saberem que podem chegar lá. Isso passa por critérios de promoção, práticas de avaliação, políticas de maternidade e, claro, mentalidade dos líderes atuais. Protagonismo se ensina por espelhamento. Se as jovens só veem homens, ou mulheres esgotadas, no topo, aprendem que sucesso custa caro demais. Precisamos de referências reais, plurais e sustentáveis.
Mais do que celebrar datas simbólicas, é hora de construir culturas que valorizem o pertencimento e a permanência. Rodas de conversa, comitês de diversidade e trocas entre gerações são rituais potentes que reforçam às mulheres que elas têm voz desde o início. Porque empresas inteligentes não apenas promovem mulheres, elas cultivam ambientes onde elas queiram ficar, crescer e liderar com coragem.
Ocupar espaço é importante. Mas é ainda mais transformador sentir que o espaço também é seu.
Sobre Thaís Roque
Com passagem por empresas como Nestlé, Pão de Açúcar e Accenture, Thaís Roque é formada em Administração e viveu, na prática, os dilemas de quem tem um bom currículo, mas não encontra realização no trabalho. A inquietação a levou a aprofundar-se nos estudos e cursou uma especialização na NYU (New York University) em Liderança e Capital Humano, além de sua formação em Gestão de Negócios na mesma universidade. A partir dessa virada, passou a apoiar mulheres em busca de sentido na vida profissional. Hoje, é autora de dois livros sobre jornadas profissionais, lidera as comunidades de empreendedoras TR Circle e Founders Confraria e comanda o podcast De Carona na Carreira.