
“Olhos no Futuro: Dr. Gabriel Castro defende a prevenção como chave para saúde ocular no SUS”
Reportagem Especial São Paulo Tv Saúde SUS

SPTV: Doutor, o senhor possui uma formação bastante ampla, incluindo uma graduação também em Matemática. Como essa bagagem multidisciplinar influencia sua atuação médica?
Dr. Gabriel Castro:
A matemática me ensinou a pensar com lógica, clareza e atenção aos detalhes — algo que aplico diariamente na medicina. Na oftalmologia, lidamos com exames muito precisos e decisões que exigem raciocínio estruturado. Essa base ajuda a oferecer um cuidado mais analítico e seguro aos pacientes.
SPTV: A catarata é uma das causas mais comuns de perda visual. Quais sinais indicam que é hora de procurar um oftalmologista?
Dr. Gabriel Castro:
Quando a visão começa a embaçar progressivamente, especialmente para longe, e os óculos não resolvem mais, pode ser catarata. Outros sinais incluem sensibilidade à luz, dificuldade para dirigir à noite e mudança frequente de grau. O ideal é fazer acompanhamento regular para detectar precocemente.
SPTV: O glaucoma ainda é pouco compreendido pela população. Por que é tão perigoso?
Dr. Gabriel Castro:
Porque é silencioso. O glaucoma vai “roubando” a visão periférica sem causar dor ou sintomas iniciais. Quando o paciente percebe, o dano já está instalado e é irreversível. Por isso, o diagnóstico precoce em consultas de rotina é fundamental.
SPTV: A conjuntivite costuma gerar alarde, especialmente em surtos. Quando ela deve preocupar mais?
Dr. Gabriel Castro:
A conjuntivite geralmente é leve e se resolve sozinha, mas deve preocupar quando vem acompanhada de dor forte, queda de visão ou secreção intensa. Em surtos, o mais importante é evitar a transmissão: lavar as mãos, não coçar os olhos e evitar contato próximo.
SPTV: Com a explosão dos casos de diabetes, como fica a saúde ocular?
Dr. Gabriel Castro:
O diabetes pode afetar seriamente os olhos, causando a retinopatia diabética, que pode levar à cegueira. O mais grave é que o paciente pode não ter sintomas no início. Por isso, todo diabético precisa consultar o oftalmologista pelo menos uma vez ao ano.
SPTV: E quanto ao envelhecimento da visão com a idade?
Dr. Gabriel Castro:
É natural que, com o tempo, a visão para perto fique mais difícil — é a chamada presbiopia. Além disso, doenças como catarata, degeneração macular e glaucoma se tornam mais comuns. O acompanhamento regular permite detectar e tratar precocemente.
SPTV: E as crianças, muitas vezes esquecidas nessa pauta?
Dr. Gabriel Castro:
Exatamente. Muitas crianças só descobrem que têm um problema visual quando já está afetando o aprendizado. Toda criança deve fazer seu primeiro exame oftalmológico até os 2 anos de idade, mesmo sem queixas, e depois ao entrar na escola.
SPTV: Homens e mulheres têm as mesmas doenças oculares?
Dr. Gabriel Castro:
De forma geral, sim. Mas algumas doenças têm maior prevalência em mulheres, como a síndrome do olho seco, especialmente após a menopausa. O mais importante é que todos, independentemente do gênero, façam consultas preventivas.
SPTV: O senhor também teve uma formação internacional no Japão. O que trouxe de lá para aplicar aqui?
Dr. Gabriel Castro:
No Japão, aprendi a importância da precisão cirúrgica e do respeito absoluto aos processos. Lá, cada detalhe conta. Trouxe essa mentalidade para minha prática: padronização, foco na excelência técnica e cuidado com cada etapa do atendimento ao paciente.
SPTV: Para encerrar, qual sua mensagem à população?
Dr. Gabriel Castro:
A visão é um dos sentidos mais preciosos que temos. Não espere perder qualidade visual para procurar ajuda. A prevenção salva olhos, evita sofrimento e custa menos do que o tratamento de doenças avançadas.
A situação do SUS em São Paulo
SPTV: Doutor, sabemos que o Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo tem enfrentado desafios de estrutura e demanda, especialmente em áreas de alta complexidade, como a oftalmologia. Qual é a sua avaliação sobre a realidade atual do SUS em relação à saúde ocular?
Dr. Gabriel Castro:
O SUS é um sistema importante e necessário, mas sofre com a alta demanda e recursos limitados. Na oftalmologia, isso significa filas longas para exames e cirurgias, o que pode comprometer a visão dos pacientes se o atendimento não for ágil. Ainda assim, vejo avanços, e com gestão eficiente é possível fazer mais com menos.
SPTV: O sistema CROSS, que realiza a regulação de vagas e serviços no SUS, tem sido utilizado para gerenciar as ofertas de atendimento especializado e cirurgias. Na sua experiência, o CROSS tem atendido adequadamente os casos mais graves de oftalmologia, especialmente os de risco de perda de visão?
Dr. Gabriel Castro:
O CROSS é uma ferramenta importante para priorizar os casos mais urgentes, e isso tem evitado perdas visuais graves em muitos pacientes. No entanto, ainda enfrenta desafios na distribuição equitativa das vagas e na agilidade. A melhora constante da triagem e comunicação entre serviços é essencial.
Prevenção ainda é o melhor caminho
SPTV: Quais seriam as melhores medidas para melhorar o atendimento oftalmológico no SUS?
Dr. Gabriel Castro:
A chave está na prevenção e triagem inteligente. Se conseguirmos identificar precocemente os casos graves, evitamos cirurgias de urgência e perda visual. Além disso, investimentos em mutirões, digitalização da regulação e valorização dos profissionais oftalmologistas são fundamentais para melhorar o fluxo e a resolutividade.
