
O megaprojeto econômico de Trump: um triunfo para os conglomerados, um fardo histórico para os trabalhadores e para o futuro dos EUA
Da Redação – São Paulo TV Broadcasting | Com informações da Agência Brasil, The Washington Post, The New York Times, The Wall Street Journal e CNN Ciglioni e Bene Correa Ilustração São Paulo TV
O Congresso dos Estados Unidos aprovou, em votação apertada e polarizada, o que Donald Trump descreve como seu maior legado econômico: o chamado “Grande e Belo Projeto”, uma massiva expansão dos cortes de impostos iniciados em 2017. O pacote legislativo, festejado pela elite empresarial, promete impulsionar investimentos e reaquecer o mercado interno. No entanto, para amplas parcelas da sociedade americana — e segundo a maioria dos principais analistas — o projeto representa um duro golpe no sistema de proteção social, um risco à saúde fiscal do país e um ataque às conquistas ambientais das últimas décadas.
O pacote, aprovado com o voto de minerva do vice-presidente J.D. Vance no Senado e uma margem de apenas quatro votos na Câmara, sinaliza o grau de divisão e tensão na política americana. Trump conseguiu, às vésperas do 4 de julho, mobilizar sua base e pressionar congressistas para consolidar uma vitória política que ele apresenta como símbolo do “renascimento econômico americano”. Mas o preço dessa vitória poderá ser alto — e os primeiros a pagá-lo serão os trabalhadores e as populações mais vulneráveis.
O peso dos números: a fatura da desigualdade
De acordo com projeções do Congressional Budget Office (CBO) e do Comitê para um Orçamento Federal Responsável (CRFB), o projeto elevará a dívida pública dos EUA em US$ 4,1 trilhões na próxima década, levando o endividamento federal ao equivalente a 127% do PIB em 2034 — um nível jamais visto na história do país em tempos de paz. Se todos os cortes temporários de impostos forem tornados permanentes, como deseja a Casa Branca, a dívida poderá ultrapassar 130% do PIB.
Em troca desse aumento explosivo da dívida, o projeto oferece cortes de impostos generosos para grandes conglomerados e para os 10% mais ricos da população. Para os trabalhadores e a classe média, o alívio fiscal será modesto, enquanto os cortes nos programas sociais prometem ser devastadores: US$ 1,07 trilhão a menos para o Medicaid, centenas de bilhões a menos para educação, vale-alimentação e programas de emprego.
A visão da imprensa e dos analistas
O New York Times destacou em editorial que “Trump prometeu um renascimento econômico; o que ele entrega é um presente aos ricos e um futuro de dívidas e desigualdade para o país”. O Washington Post descreveu o projeto como “um monumento à imprudência fiscal e ao desdém pelo contrato social americano”. Já o Wall Street Journal, por outro lado, saudou a medida como “um impulso há muito esperado ao setor produtivo e à competitividade dos EUA no cenário global”.
A CNN ouviu o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel, que afirmou:
“Essa legislação acelera o colapso do pacto social americano. É um retrocesso de 80 anos na luta por um país mais justo. O aumento da dívida será usado como justificativa para novos cortes, aprofundando o ciclo de exclusão.”
O professor James Green, do Washington Brazil Office, reforça:
“O projeto vai fechar hospitais em regiões já desassistidas, agravar a pobreza rural e transformar em pesadelo a vida de quem depende de programas públicos. Trump ofereceu um banquete aos conglomerados, deixando os trabalhadores com as migalhas.”
Do lado republicano, Mike Sommers, presidente do Instituto Americano de Petróleo, comemorou:
“Essa legislação histórica ajudará a consolidar o domínio energético americano e abrirá novas fronteiras de exploração.”
Meio ambiente: o retrocesso verde
Entre os pontos mais criticados do pacote está o desmonte da agenda ambiental aprovada no governo Biden. O plano de Trump elimina subsídios e créditos para veículos elétricos, energia eólica e solar, e abre caminho para novas explorações de petróleo e gás. O New York Times apontou: “É a maior reversão ambiental em décadas, em um momento crítico da luta global contra as mudanças climáticas.”
Gina McCarthy, ex-assessora de Biden para o clima, disse à CNN:
“Trump basicamente disse ao planeta: seu futuro não nos interessa. Esse projeto é um presente às petrolíferas e um tapa na cara das novas gerações.”
A luta no Congresso e o alerta de Hakeem Jeffries
O líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, que falou por quase nove horas na tentativa de atrasar a votação, denunciou:
“Eles estão destruindo o Medicaid, os benefícios de quem trabalhou uma vida inteira, e entregando nosso dinheiro a bilionários que já possuem tudo. É um ultraje.”
Até mesmo dentro do Partido Republicano houve dissensos. Três senadores republicanos votaram contra o pacote, preocupados com os impactos sociais e o potencial desastre eleitoral nas eleições legislativas de 2026. Um deles, Susan Collins, do Maine, afirmou ao Washington Post:
“Estamos brincando com a saúde fiscal do país e com a vida de milhões de americanos.”
O futuro incerto
Trump prometeu “um renascimento econômico sem precedentes”. A realidade, segundo os principais analistas, pode ser bem menos gloriosa: uma explosão do déficit, aprofundamento das desigualdades e uma crise social silenciosa que se instalará nas pequenas cidades, nas comunidades rurais e nas periferias urbanas. O mercado financeiro poderá celebrar no curto prazo, mas o preço virá em forma de instabilidade social e política.
Conclusão: um divisor de águas
Este megaprojeto marca um divisor de águas na história dos Estados Unidos. Não apenas pelas cifras astronômicas ou pelos retrocessos sociais e ambientais que promove, mas porque revela, em sua essência, uma visão de país onde o Estado serve ao capital antes de servir ao cidadão. O Congresso americano aprovou o maior presente à elite econômica em um século. A conta, como sempre, será paga pelos que têm menos.
A história julgará se o “Grande e Belo Projeto” de Trump terá sido o começo de um novo ciclo virtuoso — como prometem seus defensores — ou o estopim de uma nova era de desigualdade, endividamento e fragilidade social nos Estados Unidos.