
Editorial | São Paulo TV Broadcasting 1º de Maio – Dia do Trabalho: reflexões sobre conquistas, desigualdades persistentes e os rumos do futuro
Da Redação Brasil
O Dia do Trabalho, celebrado em 1º de maio em mais de 80 países, é mais do que uma data comemorativa: é um símbolo de luta, conquistas sociais e um convite à reflexão sobre o presente e o futuro das relações laborais. A origem da data remonta à greve de trabalhadores em Chicago, nos Estados Unidos, em 1886, que exigiam a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias — marco fundamental na construção dos direitos trabalhistas no mundo. No Brasil, a data foi oficializada em 1925 pelo então presidente Artur Bernardes, consolidando-se como feriado nacional e, mais tarde, ganhando contornos de valorização social, especialmente durante o governo de Getúlio Vargas, com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943.
Desde então, o Brasil e o mundo passaram por significativos avanços legislativos e sociais. No plano internacional, instrumentos como as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) fortaleceram normas mínimas de proteção aos trabalhadores. No Brasil, além da CLT, a Constituição Federal de 1988 ampliou direitos como salário mínimo, jornada limitada, férias remuneradas, licença-maternidade e paternidade, além da proteção contra despedida arbitrária. O advento da reforma trabalhista de 2017, apesar de controversa, introduziu novas formas de contratação e flexibilização de jornadas, adaptando o mercado às transformações contemporâneas — embora também tenha gerado debates sobre precarização.
Um ponto sensível no debate atual é a situação da mulher no mercado de trabalho. Apesar de comporem mais da metade da população economicamente ativa em diversos países, inclusive no Brasil, as mulheres seguem em desvantagem em relação aos homens em diversos indicadores. A desigualdade salarial é evidente: segundo o IBGE, as mulheres brasileiras ganham em média 22% a menos que os homens, mesmo com maior escolaridade média. No cenário global, a diferença persiste. Elas também enfrentam maiores taxas de desemprego, subutilização e dupla jornada com os cuidados domésticos, além de uma participação ainda minoritária em cargos de liderança e alta gestão.
Ao mesmo tempo, há avanços: legislações de igualdade de gênero, mecanismos de denúncia de assédio, programas de incentivo à liderança feminina e normas trabalhistas específicas (como estabilidade gestacional e licença-maternidade) tentam reequilibrar a balança. No entanto, o desafio está longe de ser superado.
Outro aspecto fundamental diz respeito às categorias de trabalhadores ainda marginalizadas ou invisibilizadas pela legislação. Profissionais informais, trabalhadores do campo, indígenas, migrantes e empregados de plataformas digitais muitas vezes não têm acesso pleno aos direitos garantidos em lei. A informalidade — que atinge mais de 38 milhões de brasileiros — é uma realidade que revela a fragilidade de nosso sistema de proteção social, especialmente em tempos de crise.
Ainda mais alarmante é a persistência do trabalho análogo ao escravo, tanto no Brasil quanto no mundo. De acordo com a OIT, cerca de 28 milhões de pessoas ainda vivem em condições de escravidão moderna, envolvendo trabalho forçado, servidão por dívida e tráfico humano. No Brasil, operações regulares do Ministério do Trabalho resgatam centenas de trabalhadores em fazendas, obras e até residências urbanas. A impunidade, a pobreza extrema e a fiscalização insuficiente alimentam esse ciclo cruel, incompatível com o Estado de Direito.
A situação dos idosos também é preocupante. O envelhecimento da população brasileira pressiona o sistema previdenciário, que sofre com déficits crônicos, repasses insuficientes e mudanças constantes. A Reforma da Previdência de 2019 buscou ajustar o modelo, mas deixou feridas sociais, especialmente entre os mais pobres e trabalhadores rurais. A crise de financiamento exige soluções estruturais e éticas, que garantam justiça intergeracional e sustentabilidade fiscal sem comprometer os direitos adquiridos.
Olhando para o futuro, o cenário do trabalho passa por uma transformação sem precedentes. A tecnologia, a automação, o trabalho remoto e o uso crescente de inteligência artificial alteraram a forma como produzimos, consumimos e nos relacionamos com o emprego. Profissões tradicionais estão sendo substituídas por novas funções digitais. O trabalho remoto — ou “in home” — cresceu exponencialmente, sobretudo após a pandemia da COVID-19, exigindo novas regulamentações sobre ergonomia, jornada, desconexão e direito à privacidade.
Por outro lado, a inteligência artificial, enquanto revoluciona setores como saúde, educação, comunicação e finanças, também levanta dilemas: haverá menos trabalho humano ou apenas um deslocamento para novas áreas? A resposta é complexa. A história mostra que o trabalho tende a migrar, não desaparecer. Mas essa transição exige investimento em educação, requalificação profissional e políticas públicas capazes de incluir todos — especialmente os mais vulneráveis — na nova economia digital.
O Dia do Trabalho de 2025 é, portanto, uma oportunidade de honra às lutas do passado, análise crítica das injustiças do presente e planejamento coletivo para o futuro. Um futuro em que o trabalho — mesmo em constante mutação — continue sendo fonte de dignidade, cidadania e inclusão.
Que não nos falte coragem para corrigir distorções, ampliar conquistas e construir um país onde cada trabalhadora e trabalhador seja respeitado, valorizado e protegido.

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