
COP 30: Belém, Amazônia e a Urgência da Hospitalidade Consciente
Artigo de Luiz Eduardo Fabbri
A escolha de Belém como sede da COP 30, em 2025, representa mais do que um gesto simbólico: é uma virada de chave histórica. Pela primeira vez, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas será realizada na Amazônia brasileira — um território crucial para o equilíbrio climático do planeta, mas frequentemente negligenciado nas decisões de alto nível. Belém, a capital paraense, torna-se o epicentro do debate ambiental global, colocando o Brasil, e em especial a região amazônica, sob os holofotes de chefes de Estado, ambientalistas, cientistas, investidores e veículos de imprensa do mundo inteiro.
Mas, com essa visibilidade inédita, vêm também responsabilidades que exigem ação rápida, estratégica e inteligente. O desafio vai muito além da pauta ambiental: ele se expande para o turismo, a economia local e a infraestrutura urbana. O setor de hospitalidade — pilar central de qualquer evento internacional — está no centro desse turbilhão.
A infraestrutura em xeque
Belém, apesar de sua riqueza cultural, histórica e natural, ainda carece de uma infraestrutura hoteleira robusta e de padrão internacional. A cidade receberá cerca de 30 mil visitantes durante o evento, número que desafia sua atual capacidade de hospedagem. Notícias recentes apontam que a especulação imobiliária já começou: hotéis e imóveis para aluguel temporário estão elevando os preços de forma exponencial. Esse movimento desorganizado ameaça comprometer a imagem do Brasil perante o mundo e esvazia o espírito de inclusão que deveria nortear uma conferência voltada à justiça climática.
O governo federal, atento à gravidade do problema, tem buscado intervir com propostas de regulação e acordos com a rede hoteleira. Porém, tais ações ainda são pontuais. O que se exige agora é um plano de mobilização nacional, envolvendo esferas públicas e privadas, para garantir que a hospitalidade em Belém esteja à altura da importância do evento.
Hospitalidade como valor estratégico
A hospitalidade, neste contexto, precisa ser mais do que um serviço — deve ser encarada como valor estratégico de imagem e diplomacia. É preciso investir em soluções criativas e acessíveis: do estímulo ao turismo colaborativo (como hospedagens domiciliares reguladas e plataformas solidárias) à criação de vilas temporárias para acolher delegações e pesquisadores com orçamento limitado. A qualificação da mão de obra local também é fundamental. Capacitar profissionais para lidar com o público internacional, com diferentes línguas e culturas, é tão urgente quanto investir em infraestrutura física.
São Paulo e o apoio institucional à COP 30
Neste cenário, merece destaque o trabalho articulado pela cidade de São Paulo, especialmente por meio da atuação do professor e jurista José Renato Nalini, atual Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas do município. Com uma trajetória marcada pelo compromisso com a sustentabilidade e o pensamento jurídico progressista, Nalini tem sido uma voz ativa na construção de uma agenda climática urbana de longo prazo, e agora também nacional.
Sob sua liderança, São Paulo tem promovido eventos preparatórios, fóruns temáticos e diálogos com entidades internacionais, contribuindo diretamente para a mobilização em torno da COP 30. A capital paulista, com sua infraestrutura consolidada e expertise em eventos globais, oferece um apoio complementar essencial a Belém, podendo receber programações paralelas e servir como base para articulações logísticas e diplomáticas, além de ajudar a descentralizar a pressão sobre a cidade amazônica.
Turismo e economia: a oportunidade de transformação
A COP 30 pode — e deve — ser um catalisador para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O turismo, que representa cerca de 8% do PIB brasileiro (direta e indiretamente), pode ganhar um novo protagonismo na região, desde que respeitado o equilíbrio entre crescimento econômico e preservação ambiental. Belém tem potencial para se tornar um destino referência em ecoturismo, turismo de experiência e turismo cultural, integrando roteiros que valorizem as comunidades tradicionais, a floresta em pé e a rica gastronomia amazônica.
A chegada de milhares de visitantes trará uma injeção significativa de recursos na economia local. Comércio, transporte, alimentação, entretenimento e serviços devem se beneficiar amplamente — mas tudo dependerá da capacidade de articulação e planejamento que o poder público e a iniciativa privada demonstrarão nos próximos meses.
O Brasil diante do mundo
A COP 30 será um teste de fogo para o Brasil. Um teste de competência, de visão estratégica e de compromisso ético com as causas ambientais e sociais. Mais do que um palco para discursos, será uma vitrine global para nossas virtudes — e também para nossas contradições. Preparar Belém é, portanto, preparar o Brasil para dizer ao mundo que é possível desenvolver sem destruir, acolher sem explorar, crescer sem excluir.
A Amazônia será, por alguns dias, o centro do mundo. E Belém precisa provar que está pronta — não apenas com infraestrutura e logística, mas com consciência, dignidade e hospitalidade verdadeira.

Sobre Luiz Eduardo Fabbri é Turismólogo e Sócio Diretor Geral da CASSINO Travel atuou por mais de três décadas no turismo em empresa como a SOLETUR, CVC, VARIG Travel, Tereza Perez, Raidho, Designer Turismo, TAM Viagens e LATAM Travel.