
Conclave 2025: os segredos, disputas e esperanças que envolvem a escolha do novo Papa
Da Redação da São Paulo Tv Especial do Vaticano
Com o sepultamento do Papa Francisco no último sábado (26), os olhos do mundo se voltam agora para o Conclave — o ritual secreto e centenário que decidirá quem liderará os mais de 1,4 bilhão de católicos no planeta.
Instalado no coração do Vaticano, o conclave começará no dia 7 de maio, reunindo 134 cardeais eleitores de todos os continentes em um processo que mistura espiritualidade, estratégia e tradição. A Capela Sistina, sob os afrescos de Michelangelo, mais uma vez se tornará palco de um dos ritos mais solenes e misteriosos do catolicismo, repetido desde o ano de 1270.

Segredo, isolamento e rituais milenares
A palavra conclave vem do latim cum clave, que significa “com chave”. E não é apenas uma metáfora: os cardeais são literalmente trancados no local, com acesso restrito e sob vigilância, sem qualquer contato com o mundo exterior até que o novo pontífice seja eleito. Hoje, diferentemente de séculos atrás, os cardeais dormem na Casa Santa Marta, mas continuam isolados durante todo o período da eleição.
A eleição acontece por cédulas secretas. Cada cardeal escreve o nome de seu candidato em um papel cuidadosamente dobrado, que é depositado em uma urna diante do altar. A caligrafia é camuflada propositalmente para evitar qualquer tipo de identificação. Os votos são lidos em voz alta, contabilizados, e em seguida queimados.
A fumaça gerada por essa queima carrega um símbolo poderoso: fumaça preta indica que não houve consenso; fumaça branca significa que um novo Papa foi escolhido. Para garantir a distinção visual das cores, o Vaticano utiliza compostos químicos específicos: a fumaça preta é produzida com perclorato de potássio, antraceno e enxofre; a branca, com lactose, clorato de potássio e resina de pinho.
Se, após 34 votações, ainda não houver eleito, a regra estabelece um segundo turno entre os dois mais votados — uma medida criada para evitar impasses históricos, como o conclave que sucedeu o Papa Clemente IV, que durou quase três anos.
O peso oculto do “dossiê do Conclave”
Embora o processo seja oficialmente espiritual e secreto, os bastidores do conclave são influenciados por articulações diplomáticas e informações estratégicas. Circula entre os cardeais, de forma informal, um documento conhecido como o “dossiê do conclave” — um compilado de análises, perfis e até alertas sobre os papáveis (candidatos ao trono de Pedro).
Esse dossiê, produzido por redes de influência dentro da própria Cúria Romana e por consultores externos discretos, descreve o histórico de atuação pastoral, posicionamentos doutrinários, temperamento, fluência em idiomas, capacidade de diálogo inter-religioso e até questões de saúde de cada candidato.
Não raramente, o dossiê contém também dados sensíveis, incluindo eventuais controvérsias ou resistências que os nomes enfrentam em seus países ou regiões eclesiais. Ainda que não seja oficial nem reconhecido pelo Vaticano, esse material tem peso considerável nas conversas discretas entre os cardeais — especialmente nas congregações gerais e nos jantares antes do conclave.
Cenário de tensão: uma Igreja em transição
O conclave de 2025 ocorre em um momento delicado. Segundo o vaticanista italiano Marco Politi, há uma “grande fratura interna” na Igreja. O modelo centralizado de papado deu lugar a uma realidade onde conferências episcopais e potências regionais têm voz cada vez mais influente.
De acordo com análises recentes, o colégio eleitoral está dividido da seguinte forma:
- 44,77% dos cardeais eleitores têm perfil progressista,
- 36,7% são considerados moderados,
- 18,8% têm perfil conservador.
Essa divisão torna o processo ainda mais complexo. As chamadas congregações gerais — reuniões prévias ao conclave — são fundamentais para balizar o perfil desejado do novo pontífice. Foi em uma dessas sessões que, em 2013, o então cardeal Jorge Mario Bergoglio cativou seus pares com um discurso sobre uma Igreja voltada às periferias, catalisando sua eleição como Papa Francisco.
Nomes cotados: entre tradição e renovação
A lista de papabili — como são chamados os favoritos — é extensa, mas alguns nomes ganham destaque:
- Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, diplomata experiente e hábil articulador.
- Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, próximo da comunidade de Santo Egídio e defensor do diálogo com os pobres.
- Peter Erdo, primaz da Hungria, tido como o mais preparado entre os conservadores.
- Luis Antonio Tagle, das Filipinas, com perfil pastoral e carismático, simboliza a força da Igreja na Ásia.
- Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, representante da ala reformista.
- Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, com forte atuação no Oriente Médio.
- Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa, nome de peso entre os africanos, com trajetória voltada para os direitos humanos e a justiça social.
O Brasil no conclave
Com sete cardeais eleitores, o Brasil será um dos países com maior representação no conclave. Entre eles, destacam-se:
- Dom Odilo Pedro Scherer (75), arcebispo de São Paulo, presença forte e experiente.
- Dom Paulo Cezar Costa (57), arcebispo de Brasília, teólogo respeitado e ativo no diálogo ecumênico.
- Dom Leonardo Steiner (74), arcebispo de Manaus, defensor da Amazônia e das comunidades indígenas.
- Dom Sérgio da Rocha (65), arcebispo de Salvador e ex-presidente da CNBB.
- Dom Jaime Spengler (64), arcebispo de Porto Alegre, atual presidente da CNBB.
- Dom Orani João Tempesta (74), arcebispo do Rio de Janeiro.
- Dom João Braz de Aviz (77), com longa atuação na Cúria Romana.
Um oásis de paz em meio às incertezas
“O Vaticano precisa continuar sendo um oásis de paz, um espaço de diálogo e de atenção às grandes questões da humanidade”, afirma Dom Paulo Cezar Costa, ecoando o desejo de muitos fiéis por uma liderança que una tradição e renovação, espiritualidade e presença concreta no mundo.
Mais do que escolher um nome, o conclave de 2025 definirá os rumos da Igreja Católica em uma era marcada por desafios geopolíticos, mudanças culturais e profundas transformações sociais. O mundo aguarda, em silêncio e expectativa, o sinal da fumaça branca.