
Brasil tenta dar peso à esvaziada reunião de cúpula do Brics no Rio
Por Redação São Paulo TV
Com informações do Estadão e agências internacionais Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
O Brasil dá início neste sábado (6) à cúpula anual do Brics, no Rio de Janeiro, sob o desafio de manter a relevância política e econômica do encontro diante do esvaziamento provocado pela ausência dos principais líderes do bloco. A reunião, que se estende até amanhã, ocorre no Museu de Arte Moderna (MAM) e é considerada peça-chave na estratégia do governo Lula para reforçar o protagonismo internacional do país e do grupo no cenário global.
Esvaziamento que preocupa
Entre as principais ausências estão o presidente da China, Xi Jinping, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian. Esses países, muitos diretamente envolvidos em conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu, teriam participação decisiva nas discussões sobre guerra, comércio e reformas globais.
Putin, impedido de viajar por conta da ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), participa por videoconferência e é representado no Rio pelo chanceler Serguei Lavrov. Xi Jinping, que seria peça central para atrair outros líderes ao evento, alegou dificuldades logísticas e será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang. O Egito e o Irã também optaram por enviar representantes do segundo escalão, em razão de crises regionais e conflitos armados em andamento.
Diplomacia brasileira em ação
Para tentar mitigar o impacto político do esvaziamento, o Itamaraty e o Planalto retardaram a divulgação oficial da programação e da lista final de participantes até o último momento, numa tentativa de reduzir expectativas e proteger o evento de críticas antecipadas. Internamente, o governo reforça que o compromisso do Brasil com o multilateralismo segue inabalado e que o foco da cúpula será o consenso em torno da defesa da paz, do comércio justo e da reforma do Conselho de Segurança da ONU.
“Estamos trabalhando para fortalecer o papel do Brics como um instrumento de diálogo e cooperação em um mundo marcado por conflitos e instabilidade”, declarou um diplomata envolvido nas negociações, sob reserva.
Consenso difícil, mas alcançado
Apesar das ausências e dos desafios, os negociadores do Brics conseguiram finalizar ontem (5) o rascunho de uma declaração conjunta, que será divulgada ao fim da cúpula. Fontes ouvidas pela São Paulo TV revelaram que o tom do texto deve condenar genericamente ataques ao Irã, mas sem o grau de contundência desejado por Teerã, que queria um posicionamento mais firme do grupo.

Conflitos e ausências estratégicas
As tensões na Faixa de Gaza, o conflito entre Irã e Israel, a guerra na Ucrânia e o embate entre Índia e Paquistão foram apontados por diplomatas como fatores decisivos para as ausências e a dificuldade em garantir presença de chefes de Estado no Rio. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, confirmou participação após a redução das tensões na Caxemira, mas outros países estratégicos optaram por envios simbólicos.
Entre os parceiros do Brics e convidados, Belarus, Cuba, Nigéria, Malásia, Vietnã, Uganda, entre outros, também enviaram representantes de segundo escalão. Delegações da Turquia, México, Chile e Colômbia participam na condição de observadores ou convidados especiais.
Trump e a pressão externa
Nos bastidores, diplomatas negam que a baixa adesão seja reflexo da pressão dos Estados Unidos, comandados por Donald Trump, crítico declarado do Brics e defensor da supremacia do dólar no comércio global. Trump chegou a ameaçar o bloco com um “tarifaço” de 100% caso avance a ideia de uso de moedas locais em transações internacionais — tema sensível que segue em pauta.
Expectativa para o desfecho
O governo Lula ainda tenta transformar o evento em símbolo de resistência ao unilateralismo e reafirmação do multilateralismo como caminho para lidar com os grandes desafios globais. Resta saber se o comunicado final e os encontros paralelos no Rio conseguirão projetar a imagem de um Brics coeso e relevante no cenário internacional.