
PCC usou fundos de investimento para blindagem patrimonial, aponta Justiça
Redação São Paulo TV
A Operação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28), escancarou a sofisticação do Primeiro Comando da Capital (PCC) em esquemas de lavagem de dinheiro e revelou sua infiltração em setores estratégicos da economia brasileira. O inquérito aponta que a facção assumiu o controle de refinarias, distribuidoras, mais de 1,2 mil postos de combustíveis e até de um terminal portuário, adulterando combustíveis e ampliando sua rede criminosa em diversos Estados.
Além do setor de combustíveis, a investigação identificou a presença do PCC no mercado financeiro, utilizando empresas de fachada e estruturas sofisticadas para movimentar bilhões. Segundo o Ministério Público de São Paulo, uma fintech atuava praticamente como “banco paralelo” do crime organizado, permitindo a circulação de valores ilícitos sem o devido controle.
R$ 52 bilhões em operações suspeitas
As autoridades estimam que a facção movimentou cerca de R$ 52 bilhões em transações suspeitas. Só uma das fintechs investigadas teria registrado R$ 17,7 bilhões em operações ligadas ao PCC. No total, aproximadamente 40 fundos de investimento, com patrimônio avaliado em R$ 30 bilhões, foram identificados como instrumentos de ocultação de capital.
Decisões judiciais e alvos em São Paulo
Os juízes Guilherme Kellner, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens, e Sandro Nogueira de Barros Leite, da 2ª Vara Criminal de Catanduva, autorizaram mandados de busca, bloqueio de bens e quebra de sigilo bancário. Os alvos incluíram imóveis de alto padrão e prédios comerciais na Avenida Faria Lima, em São Paulo, epicentro do mercado financeiro brasileiro.
Na decisão, Kellner destacou haver “indícios substanciais” da participação de instituições de pagamento em um “complexo sistema erigido para a blindagem patrimonial e ocultação dos ilícitos antecedentes” relacionados ao desvio de metanol e adulteração de combustíveis.
Já Leite ressaltou a existência de “elementos concretos” que comprovam o uso de centenas de empresas constituídas em nome de terceiros e familiares, dentro de um propósito expansionista da organização criminosa. Segundo ele, o grupo se valeu inclusive de administradores e gestores de fundos de investimento para reforçar a ocultação e a dissimulação de seu patrimônio.
Estratégia criminosa e próximos passos
A Carbono Oculto mostra que o PCC estruturou um modelo empresarial paralelo, expandindo sua atuação para toda a cadeia produtiva e utilizando mecanismos legais para legitimar ganhos ilícitos. Essa estratégia conferiu à facção maior poder econômico e capacidade de influência em setores regulados.
O material apreendido na operação será analisado para identificar outros suspeitos e empresas envolvidas no esquema. A expectativa é que novas fases da investigação aprofundem a identificação de cúmplices no mercado financeiro e no setor de combustíveis.
Linha do Tempo – Operação Carbono Oculto
🔎 Antes da operação
- 2019–2024 – Investigações iniciais identificam movimentações financeiras atípicas ligadas ao PCC.
- Redes de fachada – Facção expande domínio sobre refinarias, distribuidoras e mais de 1,2 mil postos de combustíveis, adulterando e desviando metanol para abastecer o esquema.
- Fintech criminosa – Criação de empresa de tecnologia financeira que atua como “banco paralelo” do PCC, possibilitando lavagem em grande escala.
📈 Estrutura financeira revelada
- R$ 52 bilhões – Valor estimado em movimentações suspeitas ligadas à facção.
- R$ 17,7 bilhões – Operações identificadas em apenas uma fintech.
- 40 fundos de investimento – Usados para blindagem patrimonial, com patrimônio de R$ 30 bilhões.
- Empresas de fachada – Centenas de CNPJs registrados em nome de terceiros e familiares para mascarar atividades.
⚖️ Decisões judiciais
- Juiz Guilherme Kellner – 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens.
- Apontou “indícios substanciais” da participação de instituições de pagamento no esquema.
- Juiz Sandro Nogueira de Barros Leite – 2ª Vara Criminal de Catanduva.
- Destacou “elementos concretos” da atuação expansionista da facção, com uso de familiares e gestores de fundos para blindagem patrimonial.
🚔 Deflagração da Operação – 28 de agosto de 2025
- Mandados cumpridos em diversas cidades, incluindo prédios comerciais na Avenida Faria Lima, em São Paulo, centro financeiro do país.
- Bloqueio de bens e quebra de sigilo bancário autorizados pela Justiça.
- Material apreendido será periciado para identificar novos envolvidos e eventuais conexões com o sistema financeiro formal.
🔮 Próximos passos
- Análise das provas apreendidas.
- Identificação de empresas, sócios ocultos e gestores financeiros ligados ao esquema.
- Possibilidade de novas fases da operação, ampliando o cerco sobre cúmplices no mercado financeiro e na cadeia produtiva de combustíveis.