
Bloqueio de ajuda humanitária dos EUA ameaça frágil paz na Colômbia
📍 São Paulo TV Internacional – 12/05/2025 fonte Jornal O Estado de São Paulo foto Agencia PI
A paz na Colômbia, firmada com grande esforço em 2016, corre sérios riscos. A decisão do governo do ex-presidente Donald Trump de encerrar praticamente todas as operações da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no país representa um duro golpe para os esforços de reconciliação e reconstrução em uma das nações mais atingidas por conflitos armados nas Américas.
Por mais de duas décadas, a USAID foi um dos principais pilares de apoio ao desenvolvimento colombiano, investindo mais de US$ 3,9 bilhões em programas que incluíam desde assistência a agricultores deslocados até apoio a processos de justiça de transição. Com o desmonte do apoio americano, especialmente nas regiões mais vulneráveis, especialistas alertam que grupos armados podem se fortalecer e ocupar os espaços deixados pela presença internacional.
“Isso dá ânimo aos grupos armados”, afirma León Valencia, diretor da Fundação Paz e Reconciliação, sediada em Bogotá, que recebia recursos da USAID para atuar em comunidades pós-conflito.
Violência e deslocamento em alta
A crise humanitária é evidente em regiões como Catatumbo, no nordeste do país. Desde janeiro, ao menos 106 pessoas foram mortas e mais de 64 mil tiveram de abandonar suas casas, segundo autoridades locais. O vazio deixado pela retirada da USAID se soma à perda de apoio do Departamento de Estado dos EUA, que financiava operações de combate ao narcotráfico e à remoção de minas terrestres.
Em áreas rurais, a presença da agência americana era muitas vezes o único contrapeso aos grupos criminosos. Um ex-contratado de ONG que atuava na prevenção do aliciamento de jovens por facções armadas relatou:
“Há partes do país onde só existem os bandidos e a USAID. Sem ela, perdemos o pouco de estabilidade que havia.”
Impacto no processo de paz
O acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pôs fim a mais de seis décadas de guerra. A assistência americana ajudava a manter esse pacto em pé, oferecendo alternativas econômicas ao cultivo da coca e financiando a Jurisdição Especial para a Paz (JEP) — o tribunal criado para julgar crimes cometidos durante o conflito, que deixou ao menos 450 mil mortos. A USAID também fornecia recursos para identificação de corpos em valas comuns, por meio de testes de DNA.
O International Crisis Group, que monitora conflitos armados, classificou a decisão americana como um “abalo tectônico” e alertou que a percepção de ausência dos EUA pode ser interpretada como sinal verde por criminosos e milícias.
Divergências internas
Embora a ajuda externa tenha sido fundamental, nem todos os setores da política colombiana viam o apoio dos EUA com bons olhos. Parlamentares conservadores ecoaram o discurso trumpista de que a USAID desperdiçava recursos. Já representantes da esquerda questionavam o papel da ajuda como forma de ingerência norte-americana.
O fato é que a Colômbia, atualmente, enfrenta oito conflitos armados distintos, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. É o cenário mais crítico desde a assinatura do acordo de paz em 2016.
A retirada do apoio norte-americano não só ameaça os avanços conquistados como também pode reabrir as feridas de um país que ainda luta por verdade, justiça e reconstrução social.