Entrevista Exclusiva com o Professor Francisco Borba Ribeiro Neto, da PUC-SP
Por Ciglioni – São Paulo TV Broadcasting
Antes assista o video no Instagram do Vaticano News
“Extra omnes” — “Todos devem sair.”
Com esta solene proclamação em latim, encerram-se as portas da Capela Sistina. Todos os que não são essenciais ao processo eletivo deixam o recinto, marcando o início oficial do Conclave.
No silêncio que se estabelece, o Pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, conduz uma meditação espiritual. Sua reflexão convida os cardeais eleitores a entrarem num clima de oração profunda e discernimento interior, preparando seus corações e consciências para a missão histórica que têm diante de si: eleger o novo Sucessor de Pedro. Instagram
Na tarde de quarta-feira, sob o olhar dos afrescos de Michelangelo, os 133 cardeais participantes do Conclave de 2025 adentraram a Capela Sistina. O antigo ritual para a eleição do Papa foi oficialmente iniciado.
Por volta das 15h45, os cardeais eleitores reuniram-se na Capela Paulina e, em ordem inversa de precedência, seguiram em procissão rumo à Capela Sistina, entoando a “Ladainha de Todos os Santos” e, em seguida, o hino “Veni Creator Spiritus”, invocando a descida do Espírito Santo sobre a assembleia.
Abrindo a procissão, ia a cruz processional, seguida pelo coro e pelos padres assistentes do Mestre de Cerimônias. Logo atrás, vinham o Secretário do Conclave e o cardeal responsável pela meditação inicial após o fechamento da Capela. Em seguida, os cardeais avançavam em fila, sendo o Mestre de Cerimônias o último a entrar.
Entre os cardeais eleitores, a tradição determinava a ordem de entrada: primeiro os cardeais diáconos, depois os presbíteros e, por fim, os cardeais bispos. video Instagram
São Paulo, 7 de maio de 2025 — O Conclave para eleger o 267º Sucessor de Pedro teve início hoje na Capela Sistina, reunindo 133 cardeais de 71 países. Este conclave é o mais geograficamente diverso da história da Igreja Católica, refletindo a globalização da fé e as complexas dinâmicas internas que moldam o futuro da Igreja.
Para entender melhor os bastidores desse processo e as implicações para a Igreja Católica, conversamos com o Professor Francisco Borba Ribeiro Neto. Especialista em sociologia da religião e doutrina social da Igreja, foi coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
São Paulo TV Broadcasting: Professor Borba, o que podemos esperar deste conclave em termos de representatividade e diversidade?
Professor Francisco Borba Ribeiro Neto: É o Conclave mais diverso e representativo da história, nunca tivemos cardeais de tanto países, de todos os continentes. A coisa mais interessante, a meu ver, é a presença crescente de cardeais vindos das “terras de missão”, países onde o cristianismo está crescendo, na Ásia e na África, que trarão com certeza um olhar peculiar aos desafios da Igreja.
São Paulo TV Broadcasting: Quais são os principais desafios que o próximo Papa enfrentará?
Professor Francisco Borba Ribeiro Neto: Papa Francisco iniciou um processo de mudanças necessárias dentro da Igreja. A renúncia de Beto XVI, independentemente das razões objetivas que o levaram a tomar tal decisão, mostrou simbolicamente que muitas coisas na estrutura e na prática da Igreja precisavam ser mudadas. Francisco iniciou essas mudanças, mas é como o caminhar de um adolescente rumo à vida adulta, um caminho que exige experimentação, correção e aperfeiçoamento. Não há como imaginar um retorno a um passado que não existe mais e se mostrou insatisfatório diante dos desafios atuais, mas as mudanças precisam ser aperfeiçoadas. Por outro lado, existe uma crescente busca religiosa na sociedade ocidental que precisa ser adequadamente respondida. Francisco se propôs a dar essa resposta, mas a própria comunidade católica, muitas vezes perdida nos debates ideológicos da sociedade em geral, não percebeu o alcance de sua mensagem. Em síntese, os dois maiores desafios são avançar nas reformas iniciadas e responder de forma ainda mais efetiva à ânsia por religiosidade de nosso tempo.
São Paulo TV Broadcasting: Como as reformas de Papa Francisco influenciam a escolha de seu sucessor?
Professor Francisco Borba Ribeiro Neto: Francisco mostrou que a Igreja deve seguir o caminho da humildade, da pobreza evangélica e do acolhimento amoroso a todos. O próximo papa terá que seguir esse perfil, ainda que – é bom frisar – não será um novo Francisco.
São Paulo TV Broadcasting: Quais são os principais candidatos e suas características?
Professor Francisco Borba Ribeiro Neto: Essa pergunta eu não respondo por princípio, perdão…
São Paulo TV Broadcasting: Como o senhor vê o futuro da Igreja Católica após este conclave?
Professor Francisco Borba Ribeiro Neto: A Igreja vive um momento de “crise”, no sentido da etimologia grega, que indica um momento de decisão, julgamento, discernimento. Francisco mostrou a possibilidade de um caminho maravilhoso, que poderia responder tanto às demandas dos chamados progressistas quanto dos chamados conservadores – mas este caminho implica numa conversão pessoal e comunitária do povo de Deus. Temos que entender que o social e o espiritual andam juntos, mais, não haverá um verdadeiro desenvolvimento social sem o cultivo do espiritual, nem uma espiritualidade cristã autentica sem o compromisso com a superação da pobreza e das mazelas da sociedade. Todo momento de “crise”, neste sentido, levará muitos a se realizarem de modo muito mais pleno, assim como fará com que outros se percam em suas ideologias e pretensões. O futuro da Igreja, após o Conclave, é o tempo de cada um de nós nos convertermos ou não, “escolhermos a vida”, como diz a Bíblia…
À medida que o conclave se desenrola, o mundo observa atentamente. A escolha do próximo Papa não apenas determinará a direção espiritual da Igreja Católica, mas também refletirá as tensões e esperanças de uma sociedade em constante transformação.
Assista a Entrevista do Professor Francisco Borba Ribeiro Neto para a São Paulo TV Broadcasting https://www.youtube.com/watch?v=n6_c2X8GT5Y
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