
Futebol e jogatina: o jogo é justo?
Benê Corrêa agora é São Paulo TV: jornalismo de verdade com ética e credibilidade
A São Paulo TV tem o orgulho de anunciar a chegada de Benê Corrêa ao seu time de colunistas. Com uma trajetória sólida no jornalismo nacional, Benê atuou como redator, editor, produtor e chefe de reportagem na CBN São Paulo, e foi subeditor na Rádio Web Câmara. Também trabalhou como editor de texto na Rádio Record, além de colaborar com veículos do Sistema Globo de Rádio. Sua carreira sempre foi pautada pela ética, compromisso com a verdade e respeito ao público.
Seu estilo direto, investigativo e com olhar crítico sobre os bastidores da política, da sociedade e do esporte chega para somar ao time de profissionais que praticam o jornalismo de verdade, com independência editorial e responsabilidade social.
Em sua estreia na coluna Da Redação, Benê Corrêa traz um tema urgente e polêmico: a relação entre o futebol e o universo das apostas no Brasil. Em “Futebol e jogatina: o jogo é justo?”, ele analisa as mudanças na legislação, o impacto das casas de aposta no esporte e os recentes escândalos envolvendo jogadores da elite do futebol nacional.
Com um texto informativo e provocador, Benê levanta uma série de questionamentos que mexem com a paixão nacional dos brasileiros: até que ponto o resultado de um jogo é legítimo ou manipulado? O futebol continua sendo um espetáculo ou virou um negócio onde o torcedor é apenas parte da plateia?
📌 Leia agora o primeiro artigo exclusivo de Benê Corrêa na São Paulo TV e entenda por que transparência e fiscalização são fundamentais para proteger o esporte mais amado do país.
Futebol e jogatina: o jogo é justo?
O Decreto 3.688/41, da lei de contravenções penais, estabelece que é crime estabelecer ou explorar jogos de azar, ou seja aquelas apostas em que o ganho ou a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte. Portanto, bingos, cassinos ou caça-níqueis explorados por particulares são considerados ilícitos em todo o país.
Em junho do ano passado, o Congresso aprovou na Comissão de Constituição e Justiça o Projeto de Lei 2234/22, que libera o funcionamento de bingos, cassinos e regulariza jogos de azar, jogo do bicho e outros tipos de apostas no Brasil. No entanto, a tramitação do projeto empacou e enquanto o texto final do PL não for definido e aprovado pelos parlamentares, os jogos de azar são considerados contravenção penal.
Apesar da proibição, o brasileiro sempre apostou, e muito, nos mais diversos tipos de jogatinas, sejam Loterias exploradas pelos Governos Federal e Estaduais, bingos atrelados à agremiações esportivas, entidades religiosas e caridade, ou mesmo o mais popular de todos, o jogo do bicho.
Porém, nos últimos anos, houve um aumento significativo no número de apostadores que utilizam plataformas de jogos de apostas, principalmente aquelas relacionadas ao esporte e que para efetivar a fezinha basta um celular na mão. Para se ter uma ideia, em 2022 foram movimentados em todo o Brasil algo em torno de US$ 1,5 bilhão em apostas e jogos on-line, segundo a empresa de apostas esportivas Entain, sediada no Reino Unido.
Com tanto dinheiro em jogo, teve inicio um debate sobre a necessidade de se regulamentar e fiscalizar o mercado de apostas.
Até que no final de 2023, o Governo Federal promulgou a lei 14.790/23, que trata da lotérica denominada “apostas de quota fixa”, que regula as apostas sobre eventos esportivos, e estabelece que nenhuma casa de aposta poderá atuar no país sem autorização do Ministério da Fazenda.
A nova lei estabelece regras claras e uma regulamentação completa sobre as apostas esportivas, como abertura, modalidade de aposta, fiscalização das transferências bancárias, orientação sobre o vicio em jogo e o efeito sobre a saúde. O legislador também proibiu expressamente a participação, como apostador, de qualquer pessoa que possa influenciar no resultado do evento esportivo objeto de aposta, como por exemplo dirigentes, atletas, árbitros, agentes ou procuradores de atletas e técnicos.
Problema resolvido? Não!
Nos últimos meses, celebridades da internet, artistas e jogadores de futebol se viram envolvidos em operações e investigações policiais visando esclarecer denúncias e suspeitas de manipulação e irregularidades relacionadas à apostas. Entre os casos que mais chamaram a atenção, os alvos foram dois jogadores de futebol com passagem pela seleção brasileira.
Lucas Paquetá, do time inglês West Ham, é acusado pela Federação Inglesa de envolvimento num esquema para favorecer apostadores em jogo da Premier League. O ex-jogador do Flamengo nega as acusações, mas o seu futuro no mundo do futebol poderá ser decidido ainda este ano. A denúncia vem sendo analisada pela Federação desde março. Porém, segundo o jornal britânico The Guardian, a conclusão do processo não deve ser definida antes de junho. De acordo com o livro de regras da Federação Inglesa, em casos de vazamento de informação privilegiada para apostas, como é o caso de Paquetá, as punições vão de multa, suspensão de seis meses, até o banimento dos torneios de forma definitiva.
Bruno Henrique, jogador do Flamengo, também é suspeito de favorecer apostadores. Em agosto do ano passado, o atacante passou a ser investigado sob a suspeita de manipular apostas esportivas. Numa partida contra o Santos, válida pelo Brasileirão de 2023, Bruno Henrique levou cartão amarelo e depois vermelho, na sequência. Três casas de apostas registraram movimentações acima do normal envolvendo o nome do jogador. No decorrer da investigação, a polícia descobriu conversas nos celulares apreendidos, entre Bruno Henrique e o irmão dele, Wander Nunes. Numa delas, o jogador é questionado se está pendurado com dois cartões amarelos e o irmão pede pra ser avisado caso Bruno decida forçar o terceiro cartão. Bruno Henrique tomou os cartões, mas Wander não recebeu o dinheiro, pois a aposta foi bloqueada pela Bet por suspeita de manipulação. A PF indiciou o jogador do Flamengo e mais nove pessoas que seriam beneficiadas pelas apostas: o irmão, a cunhada, uma prima e amigos de Bruno Henrique. Além deste caso, a PF também encontrou conversas que podem colocar Bruno Henrique num esquema de manipulação de resultados de corridas de cavalo.
Os casos BH e Paquetá acendem um tardio alerta para as entidades envolvidas na organização do futebol de que a entrada definitiva das Bets em campo mudou a forma como os torcedores enxergam o futebol. Hoje, situações corriqueiras numa partida de futebol ficam sob suspeita. Serão várias perguntas, muitas delas sem resposta. Até que ponto aquele pênalti inexistente foi um erro de interpretação? Por que aquele atleta deu o inicio ao jogo chutando a bola pela lateral, em vez de tocar para o companheiro à frente ou ao lado? Por que pediu para sair aos cinco minutos do primeiro tempo? Forçou o amarelo para não viajar e se preparar para o clássico contra o arquirrival ou está ajudando alguém a ganhar uma aposta? O placar deste jogo foi real ou manipulado?
A paixão dos torcedores pelo futebol será mantida. Os estádios não vão ficar vazios. Mas em determinados casos, a dúvida será
maior que a certeza. Um pouco mais de transparência ajudaria, mas transparência nunca foi prioridade no mundo do futebol.
Benê Corrêa esteve no jornalismo nacional gerenciando e fazendo parte de emissoras como a CBNSP, Sistema Globo Radio Record entre outros.