
1985-2025: Da esperança à incerteza
Benê Corrêa agora é São Paulo TV: jornalismo de verdade com ética e credibilidade
O ano de 1985 é um dos anos mais marcantes e importantes da história recente do Brasil.
Há exatos 40 anos, no dia 21 de abril, o país recebia a notícia da morte de Tancredo de Almeida Neves, o presidente eleito por via indireta, e que seria responsável por fazer a transição da ditadura imposta pelos governos militares para a Democracia. A ditadura, instaurada pelos militares em 1964, agonizava em praça pública, com milhões de vozes nas ruas exigindo o direito de votar para presidente e a retomada plena da Democracia.

Um ano antes, em 1984, o Congresso Nacional havia tapado os ouvidos e, com o voto dos parlamentares alinhados à ditadura, rejeitado a emenda à Constituição Federal de 1967 que devolvia aos brasileiros o direito de escolher o presidente. Com o avanço do processo de redemocratização, o deputado Dante de Oliveira, do PMDB-MT, apresentou uma emenda à Constituição que restituía o voto direto. A proposta estimulou os opositores ao regime militar conclamar o povo às ruas e dar início ao que foi chamado de Movimento pelas Diretas. Artistas, políticos, sindicalistas, estudantes e movimentos populares se juntaram a milhões de pessoas nos comícios realizados por todo o país. No Rio de Janeiro, cerca de 1 milhão de pessoas compareceram à Candelária e em São Paulo, a manifestação reuniu uma multidão calculada em 1,5 milhão no Vale do Anhangabaú, a maioria vestida de amarelo, a cor das Diretas Já.

O Congresso barrou a emenda e restou à sociedade civil mirar na votação do Colégio Eleitoral, realizada no dia 15 de janeiro de 1985. Dois candidatos se apresentaram, o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves, do PMDB, e o deputado federal do PDS-SP, Paulo Maluf. Tancredo com o apoio dos governadores e parlamentares oposicionistas, Maluf com o respaldo dos militares e congressistas que sustentavam o então presidente do país, o general João Figueiredo. Tancredo Neves venceu e a posse deveria ocorrer no dia 15 de março. A solenidade marcaria o retorno de um civil ao maior cargo da República e o retorno dos militares aos quartéis.

No entanto, na véspera da posse, dia 14 de março, o Brasil foi informado que Tancredo Neves não participaria da cerimônia, pois havia sido internado. Diante da indisponibilidade, José Sarney tomou posse como vice-presidente e assumiu interinamente a Presidência da República. Nos dias que se seguiram, houve toda sorte de informações distorcidas e o surgimento de diversas teorias da conspiração. Depois de 38 dias e dezenas de boletins médicos, a população foi informada sobre a morte de Tancredo Neves. A esperança criada com a votação no Colégio Eleitoral tornou-se dúvida e iniciou-se um debate sobre a legitimidade de José Sarney, tomar posse como presidente. No entanto, a transição foi consolidada e Sarney ficou com a responsabilidade de comandar o país nos primeiros anos pós-ditadura.
A morte de Tancredo alterou a rota da história que se desenhava naquele ano de 1985. Mesmo eleito indiretamente, ele contava com a simpatia e o apoio de boa parte dos políticos e da população. José Sarney, que havia saído da base política de apoio aos governos militares, era rejeitado por parte da população e sindicalistas e partidos de ideologia mais à esquerda. Era uma incógnita.
Passados 40 anos, algumas perguntas ainda pairam no ar. Como a economia teria se comportado com Tancredo? O controle inflacionário conquistado em 1994, com o Plano Real, teria ocorrido mais cedo? Em 1989, o Brasil teria as mesmas opções nas urnas, com Lula e Collor? Enfim, teríamos hoje um país melhor? Perguntas sem respostas.
O fato é que 40 anos depois, em 2025 os ataques às liberdades individuais são intensos. A Democracia novamente corre risco de sucumbir, diante de fake news e o avanço da extrema-direita. Quarenta anos depois, militares ainda se aventuram a retornar ao poder , participando e apoiando de planos golpistas. E o que em 1985 era esperança tornou-se em 2025 incerteza. O discurso antipolíticos levou ao Congresso uma maioria conservadora e sem compromisso com as reais necessidades do povo brasileiro. Debates sobre o desenvolvimento do país e das políticas para as áreas da Economia, Educação, Saúde e Cultura perderam espaço para assuntos relacionados aos costumes, à religião e aos interesses de determinados grupos. Um cenário muito diferente daquele almejado pelos brasileiros em 1985, que acreditaram num futuro melhor, num país mais justo, com menos desigualdades e livre de toda tirania.
O sonho continua.
Benê Corrêa esteve no jornalismo nacional gerenciando e fazendo parte de emissoras como a CBNSP, Sistema Globo Radio Record entre outros.